Enfim, lá estava eu com minha prima. Guia básico de bolso, da estação Glória até a Central. Chegou o momento tão esperado depois de tantos anos por detrás de uma imagem de televisão. Saímos meio que desconfiados, campo novo a ser explorado. Tarde ensolarada, e muita gente indo e vindo com fantasias, bate-bolas e uma infinidade de vendedores ambulantes.
Começo a ficar cativado por um brilho que vinha de longe. Brilho de ouro fosco não tão reluzente como aquele que costumamos observar. Num susto muito grande, não espera estar diante do Abre-Alas da minha escolha de samba, assim tão de repente. Não me contive, lágrimas rolaram. As pernas tremiam por todo o trajeto. Maõs suavam frio. Enfim, o sonho tinha se materializado e foi captado em vídeo e diversas fotos, que guardo com o mairo carinho até hoje.
Estudei a fundo a Saga desta escrava guerreira, mineira, princesa de Daomé. E lá estava ele representado no carro Abre-Alas, O Palácio de Dâxome, ornamentado e referênciado com tótens e esculturas africas, antilopes, rinoscerontes e gazelas. Segui para outros carros, ávido para ver tudo, registrar tudo. Estava sim, eufórico. Vi o Mercado, a Feitiçaria, o Cortejo pelo mar, A Bahia dos nagôs, os tambores do Maranhão, a Casa das Minas. Enredo completo, Agotime mostrada desde sua vida de princesa no Daomé, sua escravidão, sua liberdade, até fundação de seu sua religiosidade em terras brasileiras. Uma aula de história não contada na escola.
Nesse passeio tive a companhia de uma simpática senhora carioca e portelense, Dona Marisa, que confessou nunca ter desfilado pela sua escola mas que era seu sonho, coisas da paixão. Encontrou-me emocionado vendo as alegorias pela primeira vez ao vivo e começamos a conversar. Não conhecia tão bem o enredo e prontamente esclareci o que cada alegoria significava dentro da Saga de Agotime. Muito simpática e receptiva deu-me os parabéns pela minha paixão, pela minha alegria e emoção. Coisas do coração.
Confesso que não foi fácil sair daquele universo paralelo de artes e ofícios, manufatura e indústria de carnaval. Queria registrar tudo, queria ver tudo. Pensamentos soltos naquela avenida e diante de tantas outras alegorias de carnaval que existem por por um ou dois momentos de desfile e que, 30 dias após o carnaval, são recicladas ou vendidas em partes e que nunca mais vão constituir aquele todo que ficou na minha imaginação.
Não acaba ali a emoção. Faltava ainda o desfile. Momento onde aqueles carros se transformariam novamente em efeitos, luzes e novas cores agregadas a arte já presente de forma estática, como num museu. O desfile é uma grande obra, uma epopéia barroca, um cortejo em catarse plena de diferentes mídias, de diferentes emanações da beleza natural de nossa cultura. Esqueça o bunda-lê-lê! Aqui vejo uma fusão entre fantasia e realidade, criação e fruição de todos os sentidos, de todas as cores, de todas as artes.
E assim desfilam pela minha vida, nestes últimos 30 e poucos anos, memórias que se renovam e se agregam a cada novo carnaval que chega e que passa, e a cada mundo novo descoberto pela visão particular que tenho desta fábrica de sonhos.
Ecos de um desfile...
"E se o Carnaval não fosse só o dia do esquecimento? Se ele fosse nossa memória? A repetição da fantasia que fez os descobridores, a de um dia entrar no Paraíso. E se o Carnaval fosse sobretudo a reinvenção permanente do Brasil para si e para os outros?" (Bete Milan, Os Bastidores do Carnaval, 1994)
Marcelo Poloni
ps: fica registrada aqui que minha visão lúdica das escolas de samba não pretende esconder um outro lado nada fantasioso que existe por detrás das cortinas do espetáculo. Não devemos esconder a sujeira. Devemos limpá-la. Hoje em dia nem tudo são flores, mas já se fizeram grandes avanços. Problemas, de qualquer forma, não as diminuem em importância como divulgadoras de nossa história, de nossa cultura, de nossa memória.
Ah! que bonitinho o garotinho da foto.. rs
ResponderExcluirQuerido, bom carnaval se divirta na Sapucaí mande um beijo aos cariocas, pois, Cariocas são Bonitos, Cariocas são bacanas, Cariocas são sacanas, Cariocas são dourados e não gostam de dias nublados.
Beijão e se divirta.
Acho bacana esse amor que as pessoas tem pelo carnaval. Eu queria sentir essa mesma alegria, mas não consigo. Achei bacana sua emoção.
ResponderExcluirCiello carnaval é uma data quem realmente o brasileiro esquece dos problemas e se concentra na folia dae carnaval .Eu não gosto mais admiro quem curte.Curta esta cidade que tem muito para oferecer .O povo dai são diretos e sinceros. O povo Carioca sabe sempre o que querem .Por isso é chamada de cidade maravilhosa.Aproveite .Ricardo
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