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domingo, dezembro 18, 2011

O Cortejo do Rei em Sonho Infinito e Multicor




Para muitos é uma perda banal mas para outros tantos representa o final de uma existência regida pela fantasia, criatividade e pela arte de carnaval, que aqui deve ser entendida como catalizadora de tantas outras. Foram nas noites mal dormidas de "minhas mães", diante da TV, que comecei a prestar a atenção em um tradição nacional incorporada de tantas fontes. Acordava nas manhãs seguintes e lá ainda estava a TV ligada, com aquelas imagens coloridas, roupas brilhantes, cenários grandiosos e um som diferente, contando histórias mirabolantes para meu parco conhecimento geral àquela época.

De ano em ano era uma euforia pelos meses de dezembro, janeiro, fevereiro, e às vezes, até março! Ansiava pelas noites de carnaval em busca do espetáculo, da magia, da alegria e da intuitiva fonte de novas histórias a descobrir. Preparação prévia vinha com aquela fita K7 que comprava e decorava como lições da escola, aqui regida pelo samba-enredo. Nesta escola de muitos mestres, a grande aula, daquele que se tornou o rei da folia, era regida pelo extraordinário.


Olha o Luxo Ai Gente!
O Alegoria decorada com bacias
de alumínio para lavar roupa 
e com pratinhos de plástico! 
A criatividade é o Luxo.
Fenícios, Reis de França, Salomão e a Rainha de Sabá, Sonhos e Animais, A Criação do mundo, O Olho Azul da Serpente, Estrelas Negras, Adão e Eva na Lapa, Alice no Brasil das Maravilhas, Os Negros Egípcios e o óbvio: Todo mundo nasceu Nu! Histórias, lendas e muitas criações originais! O Paraíso da Loucura era aquele momento. Do história do teatro as histórias do futebol, ARTE! Resumida em um espetáculo popular.

“Eu não mexi nas raízes, apenas arrumei vasos mais bonitos para elas!" Joãozinho Trinta

Foi em uma manhã de terça-feira de carnaval, já sonolento e ansioso pelo encontro com sua arte, seu estilo já bem enraizado na minha concepção de beleza e estética que houve um rompimento dramático. O que via ali me deixou em estado de choque, em transe. Foi complicado digerir e entender, em um primeiro momento, com aquele conteúdo cultural ainda em formação lá pelo ano de 1989, aquela ousadia, aquela total transformação de valores.


Vi mendigos, pessoas sujas com roupas rasgadas, feias. Vi lixo, vi urubus e uma faixa enigmática de uma estátua enrolada em plástico preto de lixo. Um oposto do brilho ofuscante de tantos outros carnavais. Fiquei prestando atenção aos comentários. Entendi pouco, e aos poucos, do desfile àquele momento, apenas torci, era intuitivo!

"Atenção mendigos, desocupados, pivetes, meretrizes, loucos, profetas, esfomeados e povo da rua... Tirem dos Lixos deste imenso País, restos de luxo e façam a sua fantasia e venham participar deste grandioso Bal Masqué!" (texto do convite apresentado em forma de alegoria no desfile da Beija-Flor para o seu carnaval de 1989 - Ratos e Urubus, Larguem minha fantasia.)



Compreendi, enfim, tempos depois, que naquele momento nossa sociedade "moderna" era representada por verdades épicas em forma de metáfora, crítica, ironia e protesto. Aconteciam, ao mesmo tempo, todas as artes plásticas, o drama e a comédia se misturaram, a poesia e a prosa se fundiram. Uma catarse de sentidos, sentimentos e valores. Foi a partir daquele momento que reafirmei meu gosto pela cultura, meu gosto pela ARTE. Devo grande parte de tudo isso a ele, o Grande Mestre Joãosinho Trinta.

"Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo." Joãozinho Trinta

Não podemos esquecer de que o "luxo" a que se referia Joãosinho Trinta ia muito além daquele quantificado e qualificado em coisas materiais. Ultrapassa esse pensamento superficial que muitas pessoas (normalmente pouco esclarecidas da questão) têm sobre a "riqueza" do desfile das escolas de samba. É esse o luxo que sua genialidade propunha para o povo e que o este tanto gostava: A Criatividade!

Que seu cortejo rumo a infinito seja tão grandioso quanto foi a sua passagem pela Terra e, sobretudo, pelos meus nossos sonhos.

Marcelo [Ciello] Poloni

“Joãosinho Trinta poderia ter dito, mas não disse: nem mesmo o nosso melhor teatro consegue do público a participação que acontece no desfile das escolas de samba”. Sérgio Britto, ator e diretor que também partiu no cortejo rumo ao infinito, nesse triste dia 17 de dezembro, para o livro “O Brasil É um Luxo”.



quarta-feira, março 09, 2011

Artes de Carnaval

Carnaval 2011 - Mocidade Independente - Armação - 
Máscaras de Veneza e as origens do carnaval

União da Ilha 2011 
Charles Darwin no Jardim Botânico carioca.
Tempos atrás resolvi fazer um blog sobre as "artes do desfile das escolas de samba" e não evoluí na proposta pois, ufa, dá pano pra manga, babados, confetes e serpentinas, além de muita dedicação.
Não tentarei convencer ninguém do meu ponto de vista e de como visualizo, pelos meus muitos anos acompanhando de longe e "in loco", o trabalho, a execução e a apresentação deste universo de múltiplas artes, marginalizado por grande parte da pseudo-sociedade dita "erudita" que torce o nariz para nossas raízes.
Também não pretendo dizer que tudo são flores (existe muita lama) e tampouco diminuir sua função "entretenimento" em favor de minhas idéias, mas não posso diminuir sua importância enquanto resgate de nossa memória e cultura.

Comissão de Frente e Abre-Alas
Um desfile para muitos olhares


Carnaval 2011 - Grande Rio - Armação
Copinhos de plástico para representar
o fundo do mar de corais.
O desfile das escolas de samba, em meu ponto de vista, é a convergência de diversas artes em um espetáculo midiático com diversos produtos e oportunidades. Com uma diversidade de assuntos e temas, foi o cerne de meus trabalhos para o curso de Design Gráfico (projeto de produto, fotografia e instalação) e para o curso de pós-graduação em Comunicação e Mídia.


Os carros alegóricos na 
Av.Presidente Vargas - Carnaval 2011 - 
União da Ilha e o Mistério da Vida,
 um história de Charles Darwin.
“Com seus carros que serão levados para a avenida crescendo a cada dia, o barracão se constitui num espaço crítico em que se pensa, se realiza e se aprende arte. Numa acepção ampla, carnaval não designa portanto a festa simplesmente, mas todo o processo que nela desemboca.”(Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, O rito e o tempo: ensaios sobre o carnaval, 1999.)


Mocidade 2011 - 
Parábola dos Divinos Semeadores
Costumo tirar muitas fotos da "armação" das escolas de samba do Rio de Janeiro – espaço aberto à visitação pública – na Avenida Presidente Vargas – para registrar detalhes, referências e o trabalho não percebido na hora do desfile de fato, seja pela tv ou por quem esteja no "sambódromo". Considero a "armação" como um museu a céu aberto onde os artíficies anônimos do carnaval mostram suas obras de modo estático, para o deleite das milhares de pessoas que por aquele espaço transitam nas tardes de pré-desfile.

Beija-Flor 2011 - 
A Simplicidade do Rei
Na armação são dados os últimos retoques nas alegorias e efetuados os últimos testes de som e luz, geradores e demais maquinários utilizados para que o desfile seja completo e íntegro na apresentação aos julgadores, tornando-o um momento único em seu desfile. Adianto que, uma foto, vídeo ou mesmo aquilo que possa ser aqui descrito, não traduzem a grandeza e a emoção de presenciar o desfile, seja como admirador ou mesmo como um folião que veste a fantasia e brinca de ser quem não é pelo tempo limitado de um desfile de artes diversas, congregadas em uma só.

Já em desfile, o mesmo carro Abre-Alas
 que pode ser visto na foto da armação acima. 
União da Ilha e o Mistério da Vida, 
homenagem a Charles Darwin.
“Considerar o Carnaval supérfluo é desconhecer que nós brasileiros recriamos a identidade no ato de brincar, virar príncipe ou princesa, grego ou tirolês, personagem de um cenário dionisíaco onde todos são outros e, assim, mais eles mesmos. A cultura está nos Lusíadas e no Quixote, mas ainda na versão carnavalesca dos clássicos. Minimizar esta é negar o direito de sermos nós mesmos e existir.” (Betty Milan, A República do Samba. Folha de São Paulo, São Paulo.)

As pessoas que não conhecem este universo paralelo ao "bunda-lê-lê" - tipicamente sensacionalista de "reis, rainhas, popozudas, maludos, piriguetes e cafas oportunistas, pseudo-celebridades datadas, turbinadas e vazias - acreditam que "escola de samba é bagunça! Ledo engano. É trabalho para mais de 10 mil pessoas. Gera lucro e é encarado como empresa, sem deixar de lado o charme e a nostalgia, o lirismo e a arte de "Paulinhos" da Viola da Portela, "Cartolas" da Mangueira ou "Martinhos" da Vila, a Isabel.

O carnaval veio das Saturnais e da festa do boi Ápis, das festas agrárias egípcias, gregas e romanas de sagração da colheita e da primavera em tempos de fartura. Foi datado pelo calendário cristão como sendo o momento de extravasar os desejos antes do período de reclusão da quaresma. Seguiu pela idade média com a sociedade se escondendo em bailes de máscaras. Chegou com o festejo português do Entrudo ao Brasil e misturando-se ao ritmo dos tambores e danças africanas, o mistico e a arte plumária indígena, promoveu, com o tempo, a evolução de dos diversos cortejos - ranchos, corsos e cordões - em um múltiplo somatório de suas artes, chamado Escola de Samba.

As artes cênicas - Tijuca 2011
Joana D'arc carnavalizada
E assim começa o meu desfile de opiniões sobre esta grande catarse de todas as artes.... bem vindo a festa.

“Nesse país, uma escola nunca teve crise de aprendizagem: A Escola de Samba” (Sebastião Rocha, Antropólogo, Educador, Mentor do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, Prêmio Empreendedor Social 2007).

Ah... sem se esquecer da alegria e da diversão... podemos ganhar outras coisas também... venha pra festa você também. 
União da Ilha 2011 - O Mistério da Vida 
entre outros mistérios da avenida...
 Marcelo Poloni

quinta-feira, março 03, 2011

Sonhos do Vice-Rei

Desde criança, lá pelo início dos anos 80, tempo que me lembro de fato, sentava na sala com minhas mães na época do carnaval para ver o concurso de fantasias do hotel Glória. Depois passavamos a noite assistindo os desfiles das escolas de samba. Eu apenas olhava e via muita cor, muito brilho, formas fantasiosas e, de fato, eu pouco entendia sobre aquilo que via, mas entre um cochilho e outro, vislumbrava aquele universo de sonhos a bailar na tv de 20".

Varios  ArtistasE assim seguiu-se o tempo. Para todo ano novo que chegava a expectativa daquele momento aumentava e com a temporada carnavalesca: reportangens, noticias, imagens de batidores e enfim o desfile pela televisão. Minha familia não tinha dinheiro para comprar um video-cassete para registrar aqueles momentos (isso só aconteceu em 1992!!!!!! ) e então era o único momento de contato com este universo criativo.

Varios  ArtistasEm 1983 eu senti uma emoção muito forte, aquela tal de Beija-Flor de Nilópolis ganhava o carnaval em homenagem as "A grande constelação das Estrelas Negras da Ribalta"!, pulei, joguei confete e serpentina e fazia de um momento isolado meu carnaval. Joãosinho Trinta era o carnavesco que minhas mães admiravam e que eu também passei a gostar muito e era da Beija-Flor! Nossa casamento perfeito de emoções.

Lá por 1986 eu ganhei um gravador de Natal! e com ele meu primeiro K7 com os sambas-enredo. Nossa, agora eu podeira ouvir antes e compreender o que era apresentado! Que evolução! Que felicidade! Descobri as Mágicas luzes da Ribalda da Beija-Flor, O mundo encantado das palavras de Carlos Drumond de Andrade na Mangueira, a Tupinicópolis delirante da Mocidade, O ti-ti-ti do sapoti na Estácio me explicava de onde vinha o Tutti-Fruti! Que mágico! Adelaide era a pomba da paz da Portela e um lirismo único em samba-enredo banhava as Raízes da Vila Isabel em sua história indígena.
http://www.pelourinho.com/carnaval/2001/GrandeRio/images/Foto11_jpg.jpg
Não, ainda me faltava muita base de conhecimento para entender aquilo tudo mas, já era uma marca definitiva em minha história que se acumula até agora. Muitos carnavais se passaram em frente a TV. Em 1996 ganhei meu primeiro computador e abri as portas da folia para recordações, sentimentos e mais informação. Me faltava ainda aquele momento de ver tudo ao vivo mas faltava igualmente o dinheiro para tal empreitada. Fiz contatos e criei vínculos com pessoas importantissimas no Rio, No Ceará e no Brasil todo.

Me formei, comecei a trabalhar num banco, mudei pra Sampa, passei muito perrengue mas, no carnaval do ano 2000 fui lá no Anhembi ver os desfiles paulistas. Não foi a mesma coisa. Estava eu acostumado, familiarizado com jeito de desfilar carioca e sua opulência visual, praticamente um cortejo barroco (e é). No ano seguinte, depois de uma ajudinha de uma mãe pra toda vida, lá fui eu com minha prima para o Rio. Aeroporto Congonhas -> Santos Dumont, Rio visto do alto. Coração palpitando primeira viagem dita assim, importante! Hotel Glória, estou aqui e também o concurso de fantasias. Fechei o primeiro ciclo! No dia seguinte tudo começava num turbilhão de muitas emoções....

Continua.... acima....

Marcelo Poloni.
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