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domingo, dezembro 18, 2011

O Cortejo do Rei em Sonho Infinito e Multicor




Para muitos é uma perda banal mas para outros tantos representa o final de uma existência regida pela fantasia, criatividade e pela arte de carnaval, que aqui deve ser entendida como catalizadora de tantas outras. Foram nas noites mal dormidas de "minhas mães", diante da TV, que comecei a prestar a atenção em um tradição nacional incorporada de tantas fontes. Acordava nas manhãs seguintes e lá ainda estava a TV ligada, com aquelas imagens coloridas, roupas brilhantes, cenários grandiosos e um som diferente, contando histórias mirabolantes para meu parco conhecimento geral àquela época.

De ano em ano era uma euforia pelos meses de dezembro, janeiro, fevereiro, e às vezes, até março! Ansiava pelas noites de carnaval em busca do espetáculo, da magia, da alegria e da intuitiva fonte de novas histórias a descobrir. Preparação prévia vinha com aquela fita K7 que comprava e decorava como lições da escola, aqui regida pelo samba-enredo. Nesta escola de muitos mestres, a grande aula, daquele que se tornou o rei da folia, era regida pelo extraordinário.


Olha o Luxo Ai Gente!
O Alegoria decorada com bacias
de alumínio para lavar roupa 
e com pratinhos de plástico! 
A criatividade é o Luxo.
Fenícios, Reis de França, Salomão e a Rainha de Sabá, Sonhos e Animais, A Criação do mundo, O Olho Azul da Serpente, Estrelas Negras, Adão e Eva na Lapa, Alice no Brasil das Maravilhas, Os Negros Egípcios e o óbvio: Todo mundo nasceu Nu! Histórias, lendas e muitas criações originais! O Paraíso da Loucura era aquele momento. Do história do teatro as histórias do futebol, ARTE! Resumida em um espetáculo popular.

“Eu não mexi nas raízes, apenas arrumei vasos mais bonitos para elas!" Joãozinho Trinta

Foi em uma manhã de terça-feira de carnaval, já sonolento e ansioso pelo encontro com sua arte, seu estilo já bem enraizado na minha concepção de beleza e estética que houve um rompimento dramático. O que via ali me deixou em estado de choque, em transe. Foi complicado digerir e entender, em um primeiro momento, com aquele conteúdo cultural ainda em formação lá pelo ano de 1989, aquela ousadia, aquela total transformação de valores.


Vi mendigos, pessoas sujas com roupas rasgadas, feias. Vi lixo, vi urubus e uma faixa enigmática de uma estátua enrolada em plástico preto de lixo. Um oposto do brilho ofuscante de tantos outros carnavais. Fiquei prestando atenção aos comentários. Entendi pouco, e aos poucos, do desfile àquele momento, apenas torci, era intuitivo!

"Atenção mendigos, desocupados, pivetes, meretrizes, loucos, profetas, esfomeados e povo da rua... Tirem dos Lixos deste imenso País, restos de luxo e façam a sua fantasia e venham participar deste grandioso Bal Masqué!" (texto do convite apresentado em forma de alegoria no desfile da Beija-Flor para o seu carnaval de 1989 - Ratos e Urubus, Larguem minha fantasia.)



Compreendi, enfim, tempos depois, que naquele momento nossa sociedade "moderna" era representada por verdades épicas em forma de metáfora, crítica, ironia e protesto. Aconteciam, ao mesmo tempo, todas as artes plásticas, o drama e a comédia se misturaram, a poesia e a prosa se fundiram. Uma catarse de sentidos, sentimentos e valores. Foi a partir daquele momento que reafirmei meu gosto pela cultura, meu gosto pela ARTE. Devo grande parte de tudo isso a ele, o Grande Mestre Joãosinho Trinta.

"Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo." Joãozinho Trinta

Não podemos esquecer de que o "luxo" a que se referia Joãosinho Trinta ia muito além daquele quantificado e qualificado em coisas materiais. Ultrapassa esse pensamento superficial que muitas pessoas (normalmente pouco esclarecidas da questão) têm sobre a "riqueza" do desfile das escolas de samba. É esse o luxo que sua genialidade propunha para o povo e que o este tanto gostava: A Criatividade!

Que seu cortejo rumo a infinito seja tão grandioso quanto foi a sua passagem pela Terra e, sobretudo, pelos meus nossos sonhos.

Marcelo [Ciello] Poloni

“Joãosinho Trinta poderia ter dito, mas não disse: nem mesmo o nosso melhor teatro consegue do público a participação que acontece no desfile das escolas de samba”. Sérgio Britto, ator e diretor que também partiu no cortejo rumo ao infinito, nesse triste dia 17 de dezembro, para o livro “O Brasil É um Luxo”.



segunda-feira, junho 20, 2011

Eterna Primavera 74

Há 37 anos, enquanto Elvis cantava em Iowa, eu nascia naquele mesmo dia 20 de junho e, confesso, não foi fácil chegar ao mundo depois de ter sido concebido na primavera de 1973 e ser abandonado pela figura paterna desde então. Enquanto estava eu entre choros, mimos e cabelos louros, a crescer na minha cabeça de neném, lá em nas Minas Gerais, dois homens, já encaminhados em suas trajetórias de vida, encontravam-se pela primeira vez em orações aos seus respectivos pais que passavam por problemas de saúde. Da seqüência de encontros semanais no centro espírita, surgia uma amizade intensa e forte. No pulo do gato de confidências trocadas, um mineiro namoro nasceu, e engatinhava, assim como eu, na alegria daquelas tantas novidades a descobrir.

O tempo foi passando e aqueles anos 70 foram “modernos” e paradoxais comparados com a atualidade. Era da ditadura militar e da liberdade criativa do Dzi Croquettes. Hoje, se compararmos estes “tempos modernos” de outrora, é notável minha percepção que somos uma fração limitada e engessada de nossos próprios preconceitos. Eu, ainda engatinhando e tentando andar nas duas pernas, nem imaginava que uma garotinha humilhava a ditadura em Belo Horizonte e que dois homens lá se apaixonaram.

Paulo e Wanderley construíam uma união que, como eu, na descoberta do mundo, levava tombos, levantava, caia de novo, e tentava novamente até que um dia tomou prumo e não caiu mais. Assim como em qualquer casamento nem tudo foram flores, mas, os desentendimentos, incluindo o ciúme, acabavam cedendo pela transparência, cumplicidade, paciência e dedicação à entrega mútua de se ter alguém próximo em constante carinho.

As memórias daquele inicio dos anos 80 eu guardei. São presentes na minha vida como eram aquele ferrorama, aquela bicicleta monark, o LP do balão mágico e o sítio do pica-pau amarelo. Sempre fui uma criança muito fechada e quando chegava um padrinho ou madrinha me escondia ou fingia dormir.

Naquele tempo, Paulo que era tímido, fechado e não assumido, fez do Wanderley, deslocado e experiente, sua referência comportamental, transformando-se, aceitando-se e assumindo um compromisso sério de relacionamento. Opostos completos que fizeram e ainda fazem das diferenças um exercício de respeito e compreensão para viver a vida juntos por este tempo conjunto.

Fui crescendo meio sem saber o que era a vida e sem ter a esperteza daqueles garotos que viviam a jogar bola enquanto eu estudava sozinho para tirar boas notas. Apaixonei-me por uma garota, tudo platônico, medroso que eu era, nem sabia o que era desejo. Foi meu primeiro amor, mas meu primeiro desejo foi por aquele garoto dos olhos de vênus que me acompanhava na volta da escola.

Nesta época, bem pra lá do triangulo mineiro, Paulo já tinha descoberto em Wanderley, seu primeiro e único namorado, um sentimento maior do que qualquer outra possibilidade, de efêmero desejo, que o mundo pudesse oferecer, e que foi, pouco a pouco, conquistado com o respeito às individualidades em confiança mútua, tanto que, juntos nunca moraram.

Já mais crescido, encontrei um amigo que pelo tempo dele cá na terra eu passei. Um protetor que entrou na minha família como pessoa querida e odiada, pois despertava receio e ciúme, tanto em casa, quanto aos amigos. Nossa amizade foi consolidada desde os oito anos e adentrou ao núcleo familiar tanto quanto o relacionamento entre Paulo e Wanderley irradiou-se para todos a sua volta, das famílias aos colegas de trabalho, criando tanta empatia e integração (inclusão) que fornecera consolidadas estruturas para seu “casamento” não ser efêmero como muito acontece nestes dias e em todos os tipos de relações.

Na roda do tempo me perdi nos livros e nos estudos. Dois vestibulares e passei em ambos, em carreiras distintas. Entre humanas decisões, exata era a noção das minhas possibilidades e, com certo comodismo conformista, acabei escolhendo o curso que trouxe “facilidades informáticas”, não exatamente uma profissão. Talvez um erro a consertar por este tempo que sigo e não desisto!

Tenho um bom exemplo do Paulo que, neto de sicilianos, resolveu, aos 30 anos, fazer História – “As possibilidades de uma releitura da vida e seus valores, isto me fascinou – e fui fazer filosofia para complementar”. Formado em veterinária, sua profissão de fato, hoje dedica seu tempo a trabalhos voluntários em uma ONG ministrando palestras para jovens, com uma abordagem sobre ética e comportamento humano. Apaixonado por Roberto Carlos e Beatle-maníaco, fez de seus ídolos, amores conjuntos com Wanderley, que adotou a História com a profissão de professor e fez do seu blog um canto para poesias, pensamentos e contos que cativam desde a primeira leitura.

Não satisfeito com os rumos não dados a minha formação fui buscar renda para outros vôos. Comecei a trabalhar naquele banco que era sinônimo de boa vida para quem nele adentrava no passado, agora não mais. Não fiquei parado. Investi na minha liberdade e fui morar sozinho em São Paulo. Começava ai a grande revolução. Voltei meu tempo para fazer e acontecer tudo aquilo que tinha deixado para trás e ainda o faço.

Da mesma forma que reconstruo meu caminho, Paulo e Wanderley, já bem à frente nesta rota, souberam percorrê-lo com maestria nas palavras de seu casamento: “Tem-se que ter vontade, perseverança, compromisso, cumplicidade e disposição para a construção minuto a minuto, dia a dia, ano a ano. Saber superar obstáculos, acreditar na possibilidade. Não acho que isto seja tão incomum assim. Temos vários amigos na mesma condição. Não é um processo simples e fácil, mas totalmente possível, e isto vale tanto para o relacionamento homossexual como heterossexual.”*

De uns tempos para cá passei a escrever aqui. Apaixonado por Clarice Lispector, resolvi colocar para fora os sentimentos, emoções e as coisas da vida, de forma lírica, com um toque de sensibilidade e outros temperos poéticos. Bem antes, e já “ligado” com a tecnologia, movimento futuro da vida, Paulo escrevia em blogs para contar a experiência de ter uma vida de casamento gay assumido e declarado que é real. Como não existe receita de vida igual para todos, cada individuo saberá seu caminho e sua vontade. “Quero mostrar que quando se quer e quando se acredita, tudo na vida tem a sua possibilidade”.*

Paulo tem seus 60 e Wanderley seus 61 anos de experiência. Hoje, quando eu completo 37 anos de vida, e eles no caminho dos seus 37 anos de relacionamento, costurei-me em histórias, soltas no tempo, na trajetória do relacionamento deste casal que merece o meu maior respeito por conquistar a plenitude da essência de amar e saber viver intensamente um para o outro.

“Não somos apologistas do AMOR folhetim mas sim do AMOR consciente, construído e vivido no respeito, na cumplicidade, na transparência e nas lidas do dia a dia. Paixão é uma coisa linda mas ela dá e passa. Se ao fim de cada paixão formos buscar outro AMOR não estaremos sabendo o que é o verdadeiro AMOR. Ele na verdade é algo que se constrói minuto a minuto.”*

A gratidão por ter conhecido sua história, e as outras tantas por aqui agora compartilhadas, é imensurável, colaborando, ainda mais, para possa sempre acreditar em sentimentos verdadeiros, ora um pouco acinzentados pela dinâmica das facilidades atuais, mas que volta a se avivar com intensidade para quem acredita e constrói um caminho verdadeiro.

37 aqui, 37 lá. 74 no total. O Ano que começamos eternas primaveras.

Marcelo [Ciello] Poloni

*Citações de Paulo Braccini


e tem mais…

Ps.: Logo abaixo, o áudio de uma entrevista com Paulo Braccini, diretamente do blog [YAG – Na contra-mão]. Agradeço ao Hugo pelo áudio e ao Serginho, com a entrevista do Paulo no Blog [Justo e Digno], que autorizaram a divulgação e uso de seu material aqui disperso em minhas crônicas.



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sexta-feira, junho 10, 2011

Som da Memória


DON CARLO-2337 712-KEENLYSIDE AS POSA&KAUFMANN AS CARLOS-(C)ASHMOREO palco transformou-se naquela noite. Iluminou-se de grande emoção em sua primeira apresentação pública de um início de carreira. Foi observar a platéia. Casa cheia? Não importava mais depois daquele instante quando seus olhos, ao percorrer as fileiras de convidados, encontraram o caminho para o paraíso. Um instante mais para olhar com cuidado. Lá estava ele: “Sentado do lado da mãe com jeito de urso de berço”*. Foram suas primeiras impressões. Não deixou escapar a oportunidade de fazer daquela apresentação uma eterna lembrança de sua história.

Quem canta seduz, atrai e conquista. E ele o fez com a voz, com o coração e com aquele olhar certeiro, direto do palco, que, correspondido, instintivamente levou-os além e para outros cantos. Despertava o querer bem, o carinho e a dedicação. Tornaram-se um só em sentimentos musicais. Poesia versada em vida, respeito, cumplicidade e entrega. A vida de ambos parecia perder muito de sua graça quando não estavam juntos mas nunca deixaram de ter sua personalidade, nunca se anularam.

Outras canções embalaram o baile de suas vidas e, entre graves e agudos, crises e despedidas, um reencontro. Definitivo. Há 20 anos aprenderam que “amar é viver o perigo de se dissolver um dentro do outro, não como uma paixão idealista, mas como algo concreto que requer paciência e a obstinação, próprios do amor”*, tão eterno e presente como a lembrança daquela noite na ópera “Euvgueni Onieguin” de Tchaikovsky.

Entre melodias, canções e outras tantas artes que comungamos por este caminho, ainda virtual, aqui me levanto eufórico em palavras para aplaudir o José que, que apesar de hoje não cantar mais e ter alçado outros vôos profissionais, vive, e revive aqui, intensamente a lembrança daquele seu encontro com Carlos, como se eternamente estivessem no primeiro, e definitivo, recital de suas vidas.

Marcelo [Ciello] Poloni

* Citações do próprio José extraída do resumo desta ópera de vida que me foi contada hoje por e-mail.





Ópera em três atos e seis cenas, com música de Tchaikovsky, baseada no romance homônimo de Alexander Pushkin de 1831, que conta a história de um amor desprezado, transformado em ardente paixão quando já é tarde. Eugene Onegin, nobre da corte, herda uma propriedade rural. Diverte-se caçando e também com a simplicidade aristocracia local onde conhece Tatiana, jovem sonhadora de alma sensível. A moça confessa-lhe seu amor por meio de uma carta. Surpreso e invulnerável, Eugene lhe diz, com rude franqueza, que não pode correspondê-la no amor. Pouco depois, ao matar num duelo o jovem poeta Lenski, noivo de Olga, irmã de Tatiana, Onegin parte para uma longa viagem. De volta a São Petersburgo, é convidado para um baile no palácio do príncipe Gremin. A elegante anfitriã, esposa de Gremin, é Tatiana. Fascinado, Onegin compreende seu erro, o que aprofunda ainda mais o vazio da sua vida. Apaixonado, escreve uma carta à Tatiana. Embora ela confesse que seu amor não foi esquecido, ela lhe diz, com determinação, que se tornou uma mulher, e jamais encontraria ao seu lado respeito e felicidade. Ordena-lhe que a deixe para sempre. (fonte Wikipedia)

domingo, maio 29, 2011

Por um tempo Teu

Ele chegava sempre com sua vida simples, sem recursos, com fome, não daquela lasagna do almoço, mas de arte, cultura e vida, que poderia eu oferecer naquele presente tempo passado, através de algumas longas horas de tv, música, livros, revistas e internet. Era a troca, o novo, o antigo e o presente, de uma vida pulsante em cada um de nós, desconectados de nossas duras realidades e sofrimentos e interligados ao querer bem imaterial. A crítica e o sarcasmo, bem como a alegria de viver, fantasias e carinhos da amizade, eram cintilantes em seus olhos negros.

Era um protetor das malediscências daqueles que não entendiam meu cotidiano de poesia ingênua, preso eu que estava a uma vida inexistente fora dos muros impostos por uma não aceitação ou libertação. Sabia quem eu era muito mais que minha própria identidade pessoal poderia revelar. Nunca disse, ou colocou em xeque, minha personalidade que, àquela época, começa a se soltar  e encontrar seu verdadeiro caminho.

Era a luz negra, presente e invisível, de um caminho que eu deveria percorrer - e sabia que eu precisava urgentemente fazê-lo como se estivesse sozinho - para conquistar, com erros e acertos, aventuras e devaneios, a vida por inteiro, como um rio que busca o mar de descobertas infinitas no desaguar de suas esperanças. O rio de solidão com afluentes crises de tristeza encontrava-se, enfim, com a vida ocêanica de possibilidades.

Por um tempo teu, neste domingo, como há muitos anos, no aconchego maternal, esperava-o para o almoço. Ele não veio. Não ouvi sua voz. Não senti seu calor. Sua presença física ficou pelo tempo de memórias. Virá apenas pelos pensamentos meus, deitados em letras, palavras e sentimentos, neste canto que encontro para manifestar sua presença que ainda me protege, mesmo de longe noo distante eterno espaço de estrelas onde figura soberano aos meus olhos com seu eterno brilho de ébano. 

Do passado não traduzido em verbos conjugados, expelidos de minha boca, presos que ficaram ao coração, em timidez estúpida e medo, e pelo presente de ser quem sou, derramo-me hoje, e para sempre, sentimentos em verdades a quem valha-me por essência. É necessário saber amar para se sentir amado e nunca deixar para a úlitma hora dizer o que se sente correndo o risco de chegar atrasado ao encontro da vida. Eu sinto, eu digo e enfrentarei desafios tão grandes como a verdade de ser "eu" mesmo.

 Que seja pelo tempo e não por um tempo apenas...


Marcelo [Ciello] Poloni

* em mémoria de L.A.P.P, um amigo que ocupa pelo eterno e infinito espaço entre o coração e minha alma.

** ** Reflections of a Skyline: Curta filmado sobre um telhado em Londres durante um único dia. Parte do filme "Crave" de Sarah Kane Uma escritora muito talentosa, mas que não conseguiu que o seu trabalho fosse apreciado por muitos até que fosse tarde demais. Ela cometeu suicídio aos 28 anos enforcando-se em um banheiro no London's King's College Hospital. Direcão : Michael Tamman & Richard Jakes com Christopher Dunlop and Fiona Pearce.

quinta-feira, maio 26, 2011

Carta Esculpida de Arte


Fui ao teu encontro estrela cadente do meu céu de tantas possibilidades. Busquei por teu corpo e alma em cada canto desta selva - fonte de tantas outras perdições neste tempo árido de sentimentos puros - pois sabia que abrigavas a chama de um coração verdadeiro, bruto, ilimitado e complexo.

Vi, por tuas mãos pequenas, delicadas e dilaceradas no ofício que a conduziste do amor, pelos caminhos da paixão, como presa fácil, às grades da loucura, realizações materiais que, mesmo estáticas neste tempo que passou, deram-me impressões fluídas de teus desejos. 

Li teus apelos desesperados àquele que te prometia cumplicidade duradoura, que nunca cumpriria de fato, e me comovi com cada gota desta tinta que corroeu tua alma, aprisionando teus sentidos. Senti tua presença naquele átimo de vida em forma de papel, letras e ruídos de saudade.  

Fiz deste momento de observação de tua vida em arte, um encontro sublime de fruição contemplativa. Chorei por ti. Chorei por mim. Chorei por nós. Naquela tarde de domingo éramos únicos, partes entrelaçadas de um mundo perfeito, agarrados a nossa mais pura verdade, embriagados de carinho e esperança.

Descobri, naquele dia, um sentimento único por ti em teus olhos perdidos no infinito, que não ficaram tão conhecidos, pois, injustamente, mantiveram-se à sombra de teu mestre, razão de teus sentimentos, devoção e destruição. 

Saí do teu mundo, naquele átimo de meu tempo, conhecendo a fundo a tua essência de vida e de arte, traduzida em metal, mármore, gesso e sentimentos espalhados por cartas esculpidas de paixão, em tua loucura. 

Entrei hoje pelo presente das minhas memórias à lembrar de ti e daquela primeira grande exposição de arte - da tua arte, Camille Claudel! - que definitivamente foi sensível ao início da jornada de sonhos e verdades ao coração.

Marcelo [Ciello] Poloni

* relato de um tempo menino, descobridor de artistas e sentimentos, lá em 1997  e da exposição Camille Claudel, projeto Pinacoteca no Ibirapuera.

* para saber e ver mais: [AQUI]
* ver, ouvir e sentir: [AQUI]
* Cartas de amor em arte: [AQUI]
* A artista que amou demais: [AQUI]
* Trailer oficial do filme Camille Claudel, 1989: [AQUI]
* Sessão pipoca, um encontro perfeito entre Adjani e Camille... uma cena, um fragmento e o encontro com a sensação de viver a paixão em arte:



segunda-feira, maio 23, 2011

Olhar menino de sonhos eternos



Hoje ele alimenta seu corpo, proteje sua alma. Criou mecanismos para não se entregar aos sentimentos como um ingênuo sonhador que foi um dia. Recolhe-se agora, e temporariamente, para recuperar suas forças, no cantinho familiar que sempre o abrigou na infância e adolescência. Àquela época onde vivia o dilema de não entender os porquês da vida e de ser fechado em um círculo de proteção familiar exagerado. Duas mães e avós maternos que recolhiam o "pequeno príncipe" à uma ingenuidade quase infantil aos 14 anos.

Sem uma figura paterna e sem um rumo certo, orientação ou conselhos amigos, colocou-se cara a cara com todas as adversidades sem saber se defender. Passou constrangimentos por não ter a esperteza que se esperava de sua época. Descobriu a vida sozinho e assim cresceu sem ter que o compreende-se. Percebeu tarde demais que uma amigo de infância o protegia das maledicências e não pode agradecer-lhe a altura de sua bondade.

Com o tempo descobriu que seu desejo tinha feições masculinas e não soube evoluir em tempo de aproveitar sua adolescência, marcada antes pela paixão meiga por uma colega de escola. Platônico em coração apenas, nunca foi além, sua vida fechada o limitava em lidar e saber como relacionar-se além dos sonhos. Fechado em seu mundo particular de anseios pelo que existia além dos muros do seu lar maternal ficou por muito tempo a estudar a vida pela janela de sua imaginação.

Demorou a encontrar seu caminho. Sua vida nunca foi fácil e tampouco tinha recursos para libertar-se. Suas opções limitavam-se ao que era imposto pelos recursos familiares. Fez tudo o que os laços familiares quiseram que tivesse feito e fez com maestria. Estudou muito ser ter um motivo. Foi aluno exemplar mas não era a sua vida. Sobrevivia de esperanças.

O tempo é cruel e sem saber como se aventurar, sem recursos e sem expectativas, deixou-se novamete levar pelo apelo familiar e estudou um pouco mais para conseguir aquele emprego que no passado era glorioso e hoje é como um outro qualquer. Venceu! e a partir daí, mesmo diante dos poucos recursos que dispunha, começou sequenciais transformações. Tomou as rédeas de seu destino e seguiu em rompantes frenéticos de reconquista do tempo perdido.

Depois de tantos anos faz hoje uma avaliação efetiva daquilo que lhe valeu a pena e percebe que será eternamente um coração menino cheio de sonhos mas que, no presente, faz da realidade uma realização gradativa concreta de suas conquistas a cada novo passo que toma em direção ao seu bem estar, em busca pelo que considera ser um encontro com a sua vida, ainda em evolução constante. Seu mundo imaginário de outrora agora forma-se diante de seus olhos curiosos.

Marcelo [Ciello] Poloni.

quarta-feira, abril 13, 2011

O Doce Jardim da Coruja e do Coração

Quando você menos espera, e depois do mundo ter dado muitas voltas, lá vem aquele som que você reconhece da infância, pelo carinho e pela simplicidade de seu conteúdo. Não adianta! Recordações serão sempre uma viagem ao sentimento "menino" que guardamos dentro de nós, mesmo que hoje as preferências sejam por outros sons e conteúdos. Ah, também soa como bobagem infanto-juvenil? Pode ser, mas não deixa de ser uma verdade e uma vontade de infância que buscamos por toda a vida. Aqueles que encontram não deixam de voltar ao passado para sentir e manter esta energia de sentimentos compartilhados. Cumplicidade juvenil em esperança de amores em sentimentos trocados, misturados, sem medo do que pode ser. Apenas deixando acontecer.


Tiê resgatou o Balão Mágico e trouxe em seu Sweet Jardim recordações de tempos de inocência, de amor puro, singelo e sem pressa. Hoje a Coruja e o Coração que nasceram daquele jardim do passado tomam nova forma e acrescentam outros sentimentos, outras alegrias e uma carga pessoal materna, de cuidado e de preparação para uma nova fase recheada de boas influências - sim! lá vem Jeneci, Petit e Tulipa (que agora parece estar mais próxima enquanto familia! Descobertas? Tempo de fazê-las).  Se você quer saber mais é só clicar aqui!

Tiê - Se Enamora e relembra que...


nossos sonhos sempre estarão num Balão Mágico.


Marcelo Poloni

PS.: se você quer saber como está o Toby, que eu sempre olhei com mais carinho, hoje em dia, clique aqui!

segunda-feira, março 21, 2011

Blinding Lights


Eles estão a caminho! Muito em breve estarei lá no estádio fazendo coro para Muse + U2. Algumas músicas marcaram o tempo que passou e outras tantas ainda tem espaço para nosso dia-a-dia nesta loucura da megalópole paulistana, em perfeita sintonia com City of Blinding Lights que, hoje, marca a estréia da contagem regressiva para o show.




São Paulo


De todos os sentidos, De todas as realizações. De todos nós.






Desde que aqui cheguei transformações profundas aconteceram. Deixei o garoto mimado na lembrança da mãe que mora no interior. Encontrei amigos de outros tempos e fiz outros tantos que promovem meu coração em alegria.




Encontrei e perdi amores em paixões pelo tempo. De namorados fiz alguns amigos. De alguns amigos fiz alguns namorados. Não quis magoar mas talvez tenha feito sem querer. Fui magoado outras vezes mas perdoei e também fui perdoado.







Da vida conheci o mistério de vários olhares, de várias vênus, de várias tentações. Não sabia, e talvez nunca saiba direito, a lidar muito bem com sentimentos, mas aprendi a lutar por aquilo que acredito e quero. Se venci ou perdi, fez e fará parte do cotidiano de nossa vivência social.




Desabafei e aprendi que preciso fazê-lo quando em angústia e assim descobri com quem posso contar mas também estendi meu ombro, meu colo e meu carinho àqueles queridos de todas as horas que passam por situações difíceis. Conheci o Rio e lá encontrei um porto seguro de amigos que vieram de vários lugares do Brasil. Foi uma verdadeira escola, de samba, de emoção, de carinho e de companheirismo.





Fui para longe realizar alguns sonhos de além-mar e encontrei outras cidades, megalópoles de outras línguas, de outras sensações, de outros temperos, de outras imaginações. Não fui óbvio nas minhas escolhas e resgatei imagens do passado para chegar ao Oriente. Atravessei da Europa para a Ásia e de lá fui a África. Conheci antigas civilizações.




Não me gabo ou ostento, como muitos fazem, pois foi resultado de uma conquista de muitos anos e não apenas uma simples travessia com recursos de fácil ganho. (quer conferir mais? Pra lá vou eu! meu outro blog... parado no tempo passado).








Assim eu vou, tal qual Caetano cantou, sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos. Eu quero seguir vivendo, amor! Eu vou...




Marcelo Poloni






City Of Blinding Lights

[...]


I've seen you walk unafraid


I've seen you in the clothes you made


Can you see the beauty inside of me?


What happened to the beauty I had inside of me?




And I miss you when you're not around


I'm getting ready to leave the ground




Oh you look so beautiful tonight


In the city of blinding lights




Time... time Won't leave me as I am


But time won't take the boy out of this man













sexta-feira, março 04, 2011

O Rio corre pro Mar...

Enfim, lá estava eu com minha prima. Guia básico de bolso, da estação Glória até a Central. Chegou o momento tão esperado depois de tantos anos por detrás de uma imagem de televisão. Saímos meio que desconfiados, campo novo a ser explorado. Tarde ensolarada, e muita gente indo e vindo com fantasias, bate-bolas e uma infinidade de vendedores ambulantes.

Começo a ficar cativado por um brilho que vinha de longe. Brilho de ouro fosco não tão reluzente como aquele que costumamos observar. Num susto muito grande, não espera estar diante do Abre-Alas da minha escolha de samba, assim tão de repente. Não me contive, lágrimas rolaram. As pernas tremiam por todo o trajeto. Maõs suavam frio. Enfim, o sonho tinha se materializado e foi captado em vídeo e diversas fotos, que guardo com o mairo carinho até hoje.

Estudei a fundo a Saga desta escrava guerreira, mineira, princesa de Daomé. E lá estava ele representado no carro Abre-Alas, O Palácio de Dâxome, ornamentado e referênciado com tótens e esculturas africas, antilopes, rinoscerontes e gazelas. Segui para outros carros, ávido para ver tudo, registrar tudo. Estava sim, eufórico. Vi o Mercado, a Feitiçaria, o Cortejo pelo mar, A Bahia dos nagôs, os tambores do Maranhão, a Casa das Minas. Enredo completo, Agotime mostrada desde sua vida de princesa no Daomé, sua escravidão, sua liberdade, até fundação de seu sua religiosidade em terras brasileiras. Uma aula de história não contada na escola.

Nesse passeio tive a companhia de uma simpática senhora carioca e portelense, Dona Marisa, que confessou nunca ter desfilado pela sua escola mas que era seu sonho, coisas da paixão. Encontrou-me emocionado vendo as alegorias pela primeira vez ao vivo e começamos a conversar. Não conhecia tão bem o enredo e prontamente esclareci o que cada alegoria significava dentro da Saga de Agotime. Muito simpática e receptiva deu-me os parabéns pela minha paixão, pela minha alegria e emoção. Coisas do coração.

Confesso que não foi fácil sair daquele universo paralelo de artes e ofícios, manufatura e indústria de carnaval. Queria registrar tudo, queria ver tudo. Pensamentos soltos naquela avenida e diante de tantas outras alegorias de carnaval que existem por por um ou dois momentos de desfile e que, 30 dias após o carnaval, são recicladas ou vendidas em partes e que nunca mais vão constituir aquele todo que ficou na minha imaginação.

Não acaba ali a emoção. Faltava ainda o desfile. Momento onde aqueles carros se transformariam novamente em efeitos, luzes e novas cores agregadas a arte já presente de forma estática, como num museu. O desfile é uma grande obra, uma epopéia barroca, um cortejo em catarse plena de diferentes mídias, de diferentes emanações da beleza natural de nossa cultura. Esqueça o bunda-lê-lê! Aqui vejo uma fusão entre fantasia e realidade, criação e fruição de todos os sentidos, de todas as cores, de todas as artes.

E assim desfilam pela minha vida, nestes últimos 30 e poucos anos, memórias que se renovam e se agregam a cada novo carnaval que chega e que passa, e a cada mundo novo descoberto pela visão particular que tenho desta fábrica de sonhos.

Ecos de um desfile...

"E se o Carnaval não fosse só o dia do esquecimento? Se ele fosse nossa memória? A repetição da fantasia que fez os descobridores, a de um dia entrar no Paraíso. E se o Carnaval fosse sobretudo a reinvenção permanente do Brasil para si e para os outros?" (Bete Milan, Os Bastidores do Carnaval, 1994)

Marcelo Poloni

ps: fica registrada aqui que minha visão lúdica das escolas de samba não pretende esconder um outro lado nada fantasioso que existe por detrás das cortinas do espetáculo. Não devemos esconder a sujeira. Devemos limpá-la. Hoje em dia nem tudo são flores, mas já se fizeram grandes avanços. Problemas, de qualquer forma, não as diminuem em importância como divulgadoras de nossa história, de nossa cultura, de nossa memória.
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