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sexta-feira, agosto 05, 2011

Na natureza do meu Eu, encontrar-te-ei!

Estava perdido. Fui ao encontro da minha essência primitiva e deixei-me levar pelo encanto da sua natureza. Ao redor de meu mundo, entre meus trópicos, caminhei por árvores de imensas copas e densas folhagens que, ao seu redor, deixavam brotar apenas pequenas e míseras flores que sequer possuíam vida própria, ficavam a merce da vontade dos ventos e do pouco que enxergavam da luz que chegava até o solo. Observei algumas belas plantas que se nutriam da árvore em seu caule grosso como parasitas que chegam despercebidos e provocam coceiras pelo corpo de um animal sem trato. Não produziam nada, não sabiam sobreviver sem se apoiar ou fazer sua história. Eram tão míseras como as que ficavam no solo rastejando por entre raízes retorcidas que sustentavam seu peso.

Fui além e fugi para outro continente de meu passado. Senti o calor escaldante de areias soltas ao vento. Formavam grandes montanhas de um nada de profundo tom alaranjado. Escondiam cidades perdidas, civilizações passadas. Todo o mistério poderia ser ali revelado mas sob um sol sem limites, minha visão perdia-se na necessidade de sobreviver. Soubera que ali um dia foi uma grande e densa floresta que subumbiu por não saber de adaptar as intempéries do tempo. Sabia que não resistiria muito se ali ficasse contemplando o "nada" como fonte de um "nada" ainda maior. Meu deserto da alma escorreu ligeiro por entre os dedos levando-me para outro canto de uma vida que só eu entenderia.


Segui ao redor de minha vida terreste e encontrei um espaço mais amplo com luz radiante sobre arbustos menores. Não tinham pretensão de se tornarem gigantes, não tinham parasitas, não faziam sombra para as demais plantas ao seu redor. Formavam um conjunto composto de várias cores, diferentes tons e intensidades. Balançavam com o vento mas sabiam seu lugar. Suas flores, como reflexo da luz, eram de uma vivacidade cativante. Me senti livre para ir e vir, caminhando tranquilo por entre suas formas. Um rio de águas doces e cristalinas completava meu olhar nos reflexos de um sol maior.

Sentei e observei uma outra essência que ali se encontrava. Senti que havia vida. Senti que precisava me aproximar. Vontade recíproca, trocada, revelada em sentimentos, desejos e naturezas. Primitivas essências hoje se misturam, se entrelaçam e produzem flores de sensações verdadeiras. Perdido estava em locais inóspitos, estéreis de futuros frutos imaginados, sem sementes, sem esperança. Hoje sinto-me tranquilo e gradativamente amplio minhas raízes neste terreno de grandes emoções que faço no dia-a-dia de te querer mais, sempre melhor, sempre você, original e único, pois foi assim que me apaixonei, ao ver o doce campo das flores do teu olhar.


E assim, Na natureza do meu Eu, te encontrei.

Marcelo [Ciello] Poloni

terça-feira, junho 14, 2011

Cartas Lusas Melodias

"Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue. Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo. Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado. Como o sangue: sem voz nem nascente." (Mia Couto)
Você se arriscaria tudo por um romance baseado nas ondas da internet? Você largaria sua vida feita em um país da Europa para começar tudo de novo no Brasil? Esta pergunta é preconceituosa na suposição implícita de inferioridade em relação ao que achamos de nosso país?  Sim, mas quem enxerga o mundo com olhos estrangeiros talvez não veja da mesma forma, especialmente quando o motivo de sua ousadia seja a cativante alegria de viver expressa pelo frescor das palavras rápidas, justas e dignas, radicadas em Recife.

Encontraram-se nesta praia virtual de tantos “blogs” 508 anos após Cabral "ter encontrado" seu porto seguro em terras tropicais. Fizeram da troca de suas palavras, confidências de amor. Pouco tempo depois, aquele mesmo mar, que separava Camões daquela colônia ao sul, foi vencido pela lusa vontade de namorar o novo continente em verbos sentimentos. Manuel largou tudo e veio para o Brasil com uma bagagem de sonhos conjuntos com Sérgio e, desde então, nunca mais dormiram separados. Encontro bem sintonizado.

Hoje fazem do convívio diário uma experiência de troca e aprendizado. Sérgio foi atraído pelo ar mistério e pelo olhar instigante, que pedia carinho, estampados naquelas fotos trocadas. Sua grande afinidade, motivo de seu encontro: Escrever. Seja na internet, no blog, nos cadernos e agendas, em toda "carta" de Manuel, uma música especial para Sérgio lembrar-se de palavras em melodias. Sons do coração.

A maior cumplicidade que desfrutam foi a de sempre poder falar sobre tudo, sem medo ou restrições, mesmo que isso implique em discussões, sempre, passageiras. “A dificuldade de viver junto é normal, faz parte. A gente se esbarra, toma o espaço do outro, mas é fazer com que isto seja prazeroso no final das contas” que move a vontade de estarem sempre juntos.

Enquanto Sérgio é extrovertido e sempre atento aos movimentos da vida, Manuel é centrado, sério e mantém seu ar de mistério. É um caso onde os opostos se atraíram e estão num bom caminho para longos e ternos anos de amor, respeito e dedicação. Coragem, de se entregar ao risco que é viver junto e intensamente seus sentimentos, é o que não falta ao casal. Definitivamente!

Marcelo [Ciello] Poloni

ps.:  O casal me deve agora sua receita de “Ovos de Tomatada” que ficarei devendo por estas crônicas gulosas, digo, líricas.

  Oxala!-Madredeus by troubledmind


segunda-feira, junho 13, 2011

Refúgio das Palavras Francesas

E ele foi...

Já tinha estudado a vida e cursado sua trajetória. Aventurou-se pelo caminho efervescente de novidades da capital paulista para ser mestre em saber. Pública universidade, professora de vaidades, trapaceou suas expectativas. Dissertação perdida no desenlace de suas letras bem escritas.

Sentou à margem da estrada para pensar. No social caminho das esmeraldas pelos rincões de Goiás ganhou um pouco de vida. Sem maiores expectativas aceitou aquele convite de ir além. Com sua modesta poupança de alguns tostões seguiu o caminho de tantos outros na sorte de ganhar muito mais que a vida.

O rapaz das palavras francesas abandonou sua fluência para aventurar-se por outra linguagem falada na América terra dos das oportunidades. Foi mais uma vez ludibriado em histórias mal contadas. Lançado ao choro de outra vida tinha pouco tempo para ganhar a sua. Mãos atadas, limpeza forçada, necessidade de quinhão. Procurou em afetos classificados quem lhe afagasse tanta desilusão.

O encontro marcado com aquele olhar nostálgico dos anos 70 revolucionou seu coração até então sofrido. Um resgate de sua alegria e daqueles sentimentos de companheirismo. Nunca mais se afastaram. Libertou-se daquele convívio nefasto de abusos infantis. Denunciou aquele casal “amigo” e foi-se embora para um novo encanto. Certeira morada de tanto afeto, carinho e atenção.

Tentou mudar sua condição de visto vencido estrangeiro coração. Se cá viesse, para sua pátria nação, pela lei severa, imposta condição de não poder voltar para os braços de sua americana e não reconhecida comunhão. Qualquer tentativa seria a declaração de exílio por tanto tempo que definharia em saudade.

Há nove anos Dino refugia-se em clandestina vida bem moldada no convívio de seu relacionamento com Paul. Vivem bem e, apaixonados, cada vez mais não conseguem se imaginar separados. Dino colocou-se agora a escrever neste nosso convívio de tantas letras portuguesas. O garoto das palavras francesas encontrou enfim a liberdade tão sonhada naquelas palavras inglesas de seu amor incondicional.

...e nunca mais voltou.

Marcelo [Ciello] Poloni

  Calling you ( Bagdad Cafe Soundtrack ) Cover /Javier De La Cruz

domingo, junho 12, 2011

Fragrância de Estrelas


Há um tempo muito distante, em nossa imaginação, na terra dos gigantes “pamps”, vivia um Príncipe, com seus vinte e poucos anos, cabeças nas nuvens e isolado em seu mundo virtual. Nesta terra havia um Rei desiludido por seu passado, que buscava seu amor verdadeiro, definitivo e leal, através das cartas que seu, já cansado, pombo-correio tentava entregar àquele príncipe distraído.

Em um golpe do destino, em um de seus passeios pelos campos de verdejantes “ubliks”, aquele príncipe defrontou-se o pombo-correio-real de asas abertas no chão, quase sem fôlego algum, e que carregava o último e derradeiro convite de visita ao castelo real. Estupefacto com a mensagem, em galopes rompantes de curiosidade, montado em seu corcel prateado, o príncipe foi ter com seu rei um primeiro encontro.

Um perfume de notas envolventes, preparado pela bruxa boa conselheira dos lados de lá, transbordava da pele do rei para todo o salão, provocando visões mágicas sobre o príncipe, que absorto nos lábios reais, viu um caminho de estrelas, pressentindo que, ali, naquele momento, começava uma nova primavera para sua vida.

O rei, muito esperto e com anos a mais de vida e experiência, tratou de envolver o príncipe por todos os sentidos, sem deixar dúvidas de sua real intenção de cultivar conjuntamente uma nova era de alegria. Não houve escapatória. O príncipe, mesmo fugindo para longe, atravessando mar das “ongs”, pequenas sereias, não se deixou ludibriar. Estava com o caminho de volta traçado em sua memória.

Neste tempo de separação, o jovem ganhou maturidade. Aprendeu a lidar com suas próprias fraquezas e dificuldades. Evidenciou-se que sua união com o rei era definitiva, marcada pela saudade, que revela, na sua essência, sentimentos mais profundos que se agigantam para mostrar à luz de sua intensidade, um verdadeiro amor.

Bravura não faltava ao príncipe que, já entregue e consumado no casamento real, enfrentou grandes desafios diante de um dragão maquiavélico que se espreitava nas sombras de seu bravo Rei, esperando o momento propício para congelar-lhe a alma.

Neste quase onze anos de relacionamento o tal dragão tentou, uma vez mais, render-lhes o corpo e lançá-los no precipício, mas, tanto o rei quanto seu príncipe, com a vontade de amar e de viver intensamente, reuniram forças e, junto, conseguiram agarrar-se a teia da esperança para alçaram a torre do castelo.

A mística da cabala não mente, duas almas gêmeas que se encontram resistem ao tempo. Suas almas tentem a se fundir novamente, complementando-se, somando, ensinando e aprendendo a desvendar os mistérios da convivência em amor e ternura.

Revigorados e cada vez mais unidos o Rei Maurício e o Príncipe Eduardo, construíram, enfim, uma fortaleza para morarem juntos e, para bem perto dali, trouxeram seus aliados de forma a protegê-los com tanto carinho quanto aquele que emana entre si, e para todos nós, de seus nobres corações apaixonados...

Marcelo [Ciello] Poloni

ps.: esta fantasia não se fez de ilusão, é um encanto de um sonho real, realizado. Algo assim.... Supimpa!

The circle of life (live) by JazzCommunity

Desejos Transpirados

O calor escorria pelas paredes. O tentação corria pelo sangue quente de suas veias. Transpirava libido por sua pele. Latentes desejos para serem saciados em outro corpo. Cena da vida real consumada ardentemente no vapor daquela sauna, sem a fantasia do amor idealizado, sem a praia com o pôr-do-sol perfeito, sem aquele céu tombado em nuances ocres de Florença ou num café servido por Amelie em Paris. “Tudo só uma questão de cenário. Quando o enredo é bom, o cenário depois a gente inventa. O que não dá é ficar vivendo num cenário lindo a espera de um enredo que nunca acontece.”*

Na fila das afinidades Edward e Luciano se encontravam em extremos opostos, mas a ciranda da vida fez o favor de colocá-los lado a lado, como numa brincadeira de roda, transformando a fila em círculo e unindo suas mãos no exercício diário da convivência, da superação das diferenças de gostos pessoais tão distintos. Alquimia cujo ponto de fusão é a maturidade.


Uma história para se ter como lição para vencer preconceitos e paradigmas, como o de que “alguns lugares” não seriam para se começar um relacionamento. Não existem regras ou códigos pois, firmou-se, no suor de seus corpos, há 10 anos, um relacionamento consolidado e levado por um pulso firme, por um muque de peão.

Marcelo [Ciello] Poloni

* citação do protagonista desta história de encontros pela vida.

A Case of You (instrumental cover) by John Housley

sexta-feira, junho 10, 2011

Som da Memória


DON CARLO-2337 712-KEENLYSIDE AS POSA&KAUFMANN AS CARLOS-(C)ASHMOREO palco transformou-se naquela noite. Iluminou-se de grande emoção em sua primeira apresentação pública de um início de carreira. Foi observar a platéia. Casa cheia? Não importava mais depois daquele instante quando seus olhos, ao percorrer as fileiras de convidados, encontraram o caminho para o paraíso. Um instante mais para olhar com cuidado. Lá estava ele: “Sentado do lado da mãe com jeito de urso de berço”*. Foram suas primeiras impressões. Não deixou escapar a oportunidade de fazer daquela apresentação uma eterna lembrança de sua história.

Quem canta seduz, atrai e conquista. E ele o fez com a voz, com o coração e com aquele olhar certeiro, direto do palco, que, correspondido, instintivamente levou-os além e para outros cantos. Despertava o querer bem, o carinho e a dedicação. Tornaram-se um só em sentimentos musicais. Poesia versada em vida, respeito, cumplicidade e entrega. A vida de ambos parecia perder muito de sua graça quando não estavam juntos mas nunca deixaram de ter sua personalidade, nunca se anularam.

Outras canções embalaram o baile de suas vidas e, entre graves e agudos, crises e despedidas, um reencontro. Definitivo. Há 20 anos aprenderam que “amar é viver o perigo de se dissolver um dentro do outro, não como uma paixão idealista, mas como algo concreto que requer paciência e a obstinação, próprios do amor”*, tão eterno e presente como a lembrança daquela noite na ópera “Euvgueni Onieguin” de Tchaikovsky.

Entre melodias, canções e outras tantas artes que comungamos por este caminho, ainda virtual, aqui me levanto eufórico em palavras para aplaudir o José que, que apesar de hoje não cantar mais e ter alçado outros vôos profissionais, vive, e revive aqui, intensamente a lembrança daquele seu encontro com Carlos, como se eternamente estivessem no primeiro, e definitivo, recital de suas vidas.

Marcelo [Ciello] Poloni

* Citações do próprio José extraída do resumo desta ópera de vida que me foi contada hoje por e-mail.





Ópera em três atos e seis cenas, com música de Tchaikovsky, baseada no romance homônimo de Alexander Pushkin de 1831, que conta a história de um amor desprezado, transformado em ardente paixão quando já é tarde. Eugene Onegin, nobre da corte, herda uma propriedade rural. Diverte-se caçando e também com a simplicidade aristocracia local onde conhece Tatiana, jovem sonhadora de alma sensível. A moça confessa-lhe seu amor por meio de uma carta. Surpreso e invulnerável, Eugene lhe diz, com rude franqueza, que não pode correspondê-la no amor. Pouco depois, ao matar num duelo o jovem poeta Lenski, noivo de Olga, irmã de Tatiana, Onegin parte para uma longa viagem. De volta a São Petersburgo, é convidado para um baile no palácio do príncipe Gremin. A elegante anfitriã, esposa de Gremin, é Tatiana. Fascinado, Onegin compreende seu erro, o que aprofunda ainda mais o vazio da sua vida. Apaixonado, escreve uma carta à Tatiana. Embora ela confesse que seu amor não foi esquecido, ela lhe diz, com determinação, que se tornou uma mulher, e jamais encontraria ao seu lado respeito e felicidade. Ordena-lhe que a deixe para sempre. (fonte Wikipedia)

terça-feira, abril 19, 2011

"Próxima Estação: Paraíso"

A noite já estava plena naquela sexta-feira como outra qualquer. Conversa jogada fora em papo de botequim com o amigo. Não poderia ir além na madrugada pois já era hora de ir embora pela avenida de muitas ilusões, iluminada pelas luzes cintilantes de carros, letreiros e olhares, que o conduziriam ao metrô.

Já na plataforma foi surpreendido por alguém vestido com uma calça branca, tão alva quanto o sorriso que se antecipava em seu rosto. Olhares, a uma certa distância, se encontraram em portas paralelas. Eram sorrisos discretos e um clima de atrevimento no ar. Adiantou-se até a outra porta antes do desembarque naquela estação. Paraíso em sensações de troca e de vontade. Desejos.

Da plataforma seguiram juntos na escada, um atrás do outro, rentes, sentindo o perfume de tentação. Um livro na mão era a chave para o impulso de colocar-lhe a mão no ombro e, com certa rapidez, perguntar de relance: " - Gosta muito de ler?". Um singelo "sim" e um sorriso cativante de conquista para desacelerar o passo de ambos e, ali mesmo naquela estação, em meio a tantos outros que passavam, iniciaram uma conversa sobre ousadias.

Intensamente suas bocas procuraram um canto remoto e de pouco movimento para que se encontrassem em beijos quentes em meio a mãos atrevidas que passavam por dentre suas coxas. Tensão. Um momento para esquecer do mundo. Pronto, estava satisfeito pela conquista, poderia voltar para casa não sem antes obter o número daquele telefone para uma Próxima Estação.

Marcelo Poloni



Encontros | O projeto Encontros funciona desde 2010 nas estações Paraíso, Corinthians-Itaquera e Artur Alvim. O objetivo é transformar as estações do metrô em espaços culturais, com atrações gratuitas para a população. Na estação Paraíso o projeto mantém 600m² com palco, tela de cinema, exposições, totens, TVs, espaço infantil e aplicação interativa. 
+? cLiQuE -> [AQUI]

segunda-feira, março 21, 2011

Olhos de Aviador


Ele foi para um centro comercial  a procura de seu novo brinquedinho de falar e ouvir. Vestia seu jeans cinza  lavado, camisa xadrez verde e sua bota. Estava na companhia de um amigo. Passando por muitas lojas, muitas vitrines e muitos olhares. Gente bonita, elegante e nem tão sincera assim....

Ele passou por um casal aos beijos. O macho da relação de frente para o corredor e a fêmea se entregando a sedução daquele calor. Ele olhou a cena e o macho do beijo olhou também e sem findar o beijo o acompanhou com o olhar até que se perderam de vista. Parecia que queria algo mais ali naquela entrega.

Sem muito o que fazer naquela situação, foi caminhando com o amigo, que pasmado com a ousadia, para seu puritanismo público afetivo, precisava ir ao mictório. Ele ficou na espera ao lado de um outro sujeito, barba por fazer, rosto másculo, muito similar ao salvador Malvino.

Ali parado sentiu um excesso de proximidade, um excesso de cheiros e sentidos. Não mais que aos poucos aquele braço e ante-braço de pelos macios estavam mais próximos e roçavam ligeiramente nos seus. Pelos ouriçados, segredos velados, namoradA a caminho, saindo por aquela porta e deixando um vento entre eles. Uma ligeira olhada para trás revelava o que seria se o tempo o deixasse "livre".

E Ele foi além e entrou numa loja de óculos com seu amigo. Não era seu foco principal fazer qualquer compra ali. Já tinha visto que seu rosto se encaixava bem em um aviador e eis que surgiu quem poderia, com conhecimento de causa e de vendas, oferecer-lhe um conselho "amigo". Foi já dizendo: suas maçãs do rosto são altas, seu nariz mais fino, precisa de um modelo com uma volta menor para que ao sorrir ou conversar não levante o óculos do rosto.

Ofereceu-lhe um modelo e comentou: "ficou ótimo, deixou sua face com um ar mais sofisticado. Veja agora este outro aqui!". Óculos no rosto. Modelo muito bacana também. Entre os dois um preço diferenciado. Poderia ter-lhe enganado dizendo que o mais caro tinha ficado melhor. Não o fez. Disse: "este aqui, [ mais barato ], encaixou perfeitamente, deixando sua atitude ainda mais sensual (ênfase no olhar). Já reservei um para mim também, para minha viagem."

Sem jeito com aquele olhar malicioso que o encarava, Ele perguntou: vai para onde? Recife, respondeu... e o papo fluiu por algum tempo mais. Na hora de ir embora, o golpe final: "Fico aqui na parte da tarde, até as 22hs, meu "celular" está no cartão, ligue para conversamos mais..."

E Ele foi embora para, durante a semana, embarcar na onda daquele aviador de tantos óculos...

Marcelo Poloni
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