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terça-feira, agosto 16, 2011

Humanos Árvores

Limitadas essências, 
Restritas adaptações…

Gosto de olhar árvores, seus galhos, sua extensão e sua configuração no espaço vazio, no tempo que as folhas caem ou quando rodeados de verde, ou rosa, ou amarelo, ou qualquer outra cor, como nos ipês, por exemplo, que perdem sua folhagem para ganhar apenas suas flores.

Algum mistério me faz pensar na possibilidade de se expandir, de ampliar ramificações de nossa própria vida para além dos limites da gravidade ou da própria capacidade de pensar. Algo semelhante ao apenas "sentir", seja o vento, o sol ou a chuva.

Nossa vantagem é poder ir e vir e sentir diferentes condições, ambientes. A mobilidade negada às árvores limita seu espaço no mundo. A liberdade, de locomoção, condicionada ao homem pode lhe ser vantajosa, mas traz um desafio tão grande quanto uma sequóia: é preciso adpatar-se muito mais rápido ao ambiente.

Alguns humanos simplesmente estacionam no mundo como as árvores e não apenas em questões geográficas. Seus sentidos condicionam-se ao óbvio, ao limitado espaço que frequentam e não conseguem enxergar um palmo a frente de sua medíocre existência. Se ao menos pudessem embelezar o ambiente com flores, cores e odores, mas nem isso conseguem.

Daqueles que assim são por vontade própria, tenho pena. Confesso que nem todo altruísmo, que por ventura seja eu capaz de desenvolver, conseguiria me fazer acreditar em sua redenção. Que fiquem eternamente plantados no meio de um nada de sua existência.

Mas alguns assim o são involuntariamente, por razões sociais, econômicas, psicológicas ou familiares. Para estes tento ajudar e, vez por outra, consigo dentro das minhas possibilidades, ao menos o florecer de alguma novidade em seus galhos.

Aos poucos, com a beleza de uma flor, de uma estação, da novidade que cativa, conseguem tirar suas raízes do solo e alcançam novos campos, por conta própria, experimentando o erro e o acerto, ou seja, a vida, que antes lhes era negada em sua plenitude humana.

Destes tenho orgulho de sua vontade e dedicação.


Marcelo [Ciello] Poloni

sexta-feira, agosto 05, 2011

Na natureza do meu Eu, encontrar-te-ei!

Estava perdido. Fui ao encontro da minha essência primitiva e deixei-me levar pelo encanto da sua natureza. Ao redor de meu mundo, entre meus trópicos, caminhei por árvores de imensas copas e densas folhagens que, ao seu redor, deixavam brotar apenas pequenas e míseras flores que sequer possuíam vida própria, ficavam a merce da vontade dos ventos e do pouco que enxergavam da luz que chegava até o solo. Observei algumas belas plantas que se nutriam da árvore em seu caule grosso como parasitas que chegam despercebidos e provocam coceiras pelo corpo de um animal sem trato. Não produziam nada, não sabiam sobreviver sem se apoiar ou fazer sua história. Eram tão míseras como as que ficavam no solo rastejando por entre raízes retorcidas que sustentavam seu peso.

Fui além e fugi para outro continente de meu passado. Senti o calor escaldante de areias soltas ao vento. Formavam grandes montanhas de um nada de profundo tom alaranjado. Escondiam cidades perdidas, civilizações passadas. Todo o mistério poderia ser ali revelado mas sob um sol sem limites, minha visão perdia-se na necessidade de sobreviver. Soubera que ali um dia foi uma grande e densa floresta que subumbiu por não saber de adaptar as intempéries do tempo. Sabia que não resistiria muito se ali ficasse contemplando o "nada" como fonte de um "nada" ainda maior. Meu deserto da alma escorreu ligeiro por entre os dedos levando-me para outro canto de uma vida que só eu entenderia.


Segui ao redor de minha vida terreste e encontrei um espaço mais amplo com luz radiante sobre arbustos menores. Não tinham pretensão de se tornarem gigantes, não tinham parasitas, não faziam sombra para as demais plantas ao seu redor. Formavam um conjunto composto de várias cores, diferentes tons e intensidades. Balançavam com o vento mas sabiam seu lugar. Suas flores, como reflexo da luz, eram de uma vivacidade cativante. Me senti livre para ir e vir, caminhando tranquilo por entre suas formas. Um rio de águas doces e cristalinas completava meu olhar nos reflexos de um sol maior.

Sentei e observei uma outra essência que ali se encontrava. Senti que havia vida. Senti que precisava me aproximar. Vontade recíproca, trocada, revelada em sentimentos, desejos e naturezas. Primitivas essências hoje se misturam, se entrelaçam e produzem flores de sensações verdadeiras. Perdido estava em locais inóspitos, estéreis de futuros frutos imaginados, sem sementes, sem esperança. Hoje sinto-me tranquilo e gradativamente amplio minhas raízes neste terreno de grandes emoções que faço no dia-a-dia de te querer mais, sempre melhor, sempre você, original e único, pois foi assim que me apaixonei, ao ver o doce campo das flores do teu olhar.


E assim, Na natureza do meu Eu, te encontrei.

Marcelo [Ciello] Poloni

quarta-feira, julho 20, 2011

Prosas da Vida

Seguiu pelo seu tempo de reclusão. Longe estava em um planeta distante de sua órbita usual. Não esperava nada além do carinho e da lembrança daqueles que sabiam de sua condição de afastamento das rotinas de vida. Recebeu pouco de quem esperava mais. Recebeu muito de quem não esperava nada.

Ficava lá onde o calor abranda nas tardes de junho. Uma suave brisa invernal chegava de mansinho na noite que caia sobre seu leito de repouso. Buscava viver através dos olhos da tecnologia e obter o máximo de sua capacidade de fruição na observação, leitura e escrita. Relatos de outros tempos, de outras vidas. Ampliava assim seu canto de saudades. Escreveu memórias liricas contemplativas do amor alheio através de grandes aventuras por sentimentos conjugados que não eram os seus.

Encontrou palavras de afeto e alegria com outro alguém que, desconfiado, adjetivou-lhe como “provocador de galanteios de botequim”. Ledo engano deste que passou horas em conversas, brincadeiras, olhares e chamegos visuais. Combinaram entrelaçar suas rotinas no conhecer profundo de seus corações. Descobriram-se íntimos entre afinidades, diferenças, pensamentos e vontades únicas.

Não tardou para que seus olhares se aproximassem e suas bocas enfim se tocassem suavemente numa noite fria de sentimentos transpirantes. Conhecer – conversar, relacionar – sentir, buscar – encantar, querer – começar. Amar! No carrossel dos seus sonhos o amor é a força motriz que faz girar sentimentos destes eternos meninos que quererem ser um só núcleo de vida pulsante. Juntos.

Depois de tanta prosa, agora começam os “poemas da vida”...

Marcelo Poloni

Pra você, só você! 
Volta logo, na sexta, no sábado, no domingo, todo dia!

segunda-feira, junho 20, 2011

Eterna Primavera 74

Há 37 anos, enquanto Elvis cantava em Iowa, eu nascia naquele mesmo dia 20 de junho e, confesso, não foi fácil chegar ao mundo depois de ter sido concebido na primavera de 1973 e ser abandonado pela figura paterna desde então. Enquanto estava eu entre choros, mimos e cabelos louros, a crescer na minha cabeça de neném, lá em nas Minas Gerais, dois homens, já encaminhados em suas trajetórias de vida, encontravam-se pela primeira vez em orações aos seus respectivos pais que passavam por problemas de saúde. Da seqüência de encontros semanais no centro espírita, surgia uma amizade intensa e forte. No pulo do gato de confidências trocadas, um mineiro namoro nasceu, e engatinhava, assim como eu, na alegria daquelas tantas novidades a descobrir.

O tempo foi passando e aqueles anos 70 foram “modernos” e paradoxais comparados com a atualidade. Era da ditadura militar e da liberdade criativa do Dzi Croquettes. Hoje, se compararmos estes “tempos modernos” de outrora, é notável minha percepção que somos uma fração limitada e engessada de nossos próprios preconceitos. Eu, ainda engatinhando e tentando andar nas duas pernas, nem imaginava que uma garotinha humilhava a ditadura em Belo Horizonte e que dois homens lá se apaixonaram.

Paulo e Wanderley construíam uma união que, como eu, na descoberta do mundo, levava tombos, levantava, caia de novo, e tentava novamente até que um dia tomou prumo e não caiu mais. Assim como em qualquer casamento nem tudo foram flores, mas, os desentendimentos, incluindo o ciúme, acabavam cedendo pela transparência, cumplicidade, paciência e dedicação à entrega mútua de se ter alguém próximo em constante carinho.

As memórias daquele inicio dos anos 80 eu guardei. São presentes na minha vida como eram aquele ferrorama, aquela bicicleta monark, o LP do balão mágico e o sítio do pica-pau amarelo. Sempre fui uma criança muito fechada e quando chegava um padrinho ou madrinha me escondia ou fingia dormir.

Naquele tempo, Paulo que era tímido, fechado e não assumido, fez do Wanderley, deslocado e experiente, sua referência comportamental, transformando-se, aceitando-se e assumindo um compromisso sério de relacionamento. Opostos completos que fizeram e ainda fazem das diferenças um exercício de respeito e compreensão para viver a vida juntos por este tempo conjunto.

Fui crescendo meio sem saber o que era a vida e sem ter a esperteza daqueles garotos que viviam a jogar bola enquanto eu estudava sozinho para tirar boas notas. Apaixonei-me por uma garota, tudo platônico, medroso que eu era, nem sabia o que era desejo. Foi meu primeiro amor, mas meu primeiro desejo foi por aquele garoto dos olhos de vênus que me acompanhava na volta da escola.

Nesta época, bem pra lá do triangulo mineiro, Paulo já tinha descoberto em Wanderley, seu primeiro e único namorado, um sentimento maior do que qualquer outra possibilidade, de efêmero desejo, que o mundo pudesse oferecer, e que foi, pouco a pouco, conquistado com o respeito às individualidades em confiança mútua, tanto que, juntos nunca moraram.

Já mais crescido, encontrei um amigo que pelo tempo dele cá na terra eu passei. Um protetor que entrou na minha família como pessoa querida e odiada, pois despertava receio e ciúme, tanto em casa, quanto aos amigos. Nossa amizade foi consolidada desde os oito anos e adentrou ao núcleo familiar tanto quanto o relacionamento entre Paulo e Wanderley irradiou-se para todos a sua volta, das famílias aos colegas de trabalho, criando tanta empatia e integração (inclusão) que fornecera consolidadas estruturas para seu “casamento” não ser efêmero como muito acontece nestes dias e em todos os tipos de relações.

Na roda do tempo me perdi nos livros e nos estudos. Dois vestibulares e passei em ambos, em carreiras distintas. Entre humanas decisões, exata era a noção das minhas possibilidades e, com certo comodismo conformista, acabei escolhendo o curso que trouxe “facilidades informáticas”, não exatamente uma profissão. Talvez um erro a consertar por este tempo que sigo e não desisto!

Tenho um bom exemplo do Paulo que, neto de sicilianos, resolveu, aos 30 anos, fazer História – “As possibilidades de uma releitura da vida e seus valores, isto me fascinou – e fui fazer filosofia para complementar”. Formado em veterinária, sua profissão de fato, hoje dedica seu tempo a trabalhos voluntários em uma ONG ministrando palestras para jovens, com uma abordagem sobre ética e comportamento humano. Apaixonado por Roberto Carlos e Beatle-maníaco, fez de seus ídolos, amores conjuntos com Wanderley, que adotou a História com a profissão de professor e fez do seu blog um canto para poesias, pensamentos e contos que cativam desde a primeira leitura.

Não satisfeito com os rumos não dados a minha formação fui buscar renda para outros vôos. Comecei a trabalhar naquele banco que era sinônimo de boa vida para quem nele adentrava no passado, agora não mais. Não fiquei parado. Investi na minha liberdade e fui morar sozinho em São Paulo. Começava ai a grande revolução. Voltei meu tempo para fazer e acontecer tudo aquilo que tinha deixado para trás e ainda o faço.

Da mesma forma que reconstruo meu caminho, Paulo e Wanderley, já bem à frente nesta rota, souberam percorrê-lo com maestria nas palavras de seu casamento: “Tem-se que ter vontade, perseverança, compromisso, cumplicidade e disposição para a construção minuto a minuto, dia a dia, ano a ano. Saber superar obstáculos, acreditar na possibilidade. Não acho que isto seja tão incomum assim. Temos vários amigos na mesma condição. Não é um processo simples e fácil, mas totalmente possível, e isto vale tanto para o relacionamento homossexual como heterossexual.”*

De uns tempos para cá passei a escrever aqui. Apaixonado por Clarice Lispector, resolvi colocar para fora os sentimentos, emoções e as coisas da vida, de forma lírica, com um toque de sensibilidade e outros temperos poéticos. Bem antes, e já “ligado” com a tecnologia, movimento futuro da vida, Paulo escrevia em blogs para contar a experiência de ter uma vida de casamento gay assumido e declarado que é real. Como não existe receita de vida igual para todos, cada individuo saberá seu caminho e sua vontade. “Quero mostrar que quando se quer e quando se acredita, tudo na vida tem a sua possibilidade”.*

Paulo tem seus 60 e Wanderley seus 61 anos de experiência. Hoje, quando eu completo 37 anos de vida, e eles no caminho dos seus 37 anos de relacionamento, costurei-me em histórias, soltas no tempo, na trajetória do relacionamento deste casal que merece o meu maior respeito por conquistar a plenitude da essência de amar e saber viver intensamente um para o outro.

“Não somos apologistas do AMOR folhetim mas sim do AMOR consciente, construído e vivido no respeito, na cumplicidade, na transparência e nas lidas do dia a dia. Paixão é uma coisa linda mas ela dá e passa. Se ao fim de cada paixão formos buscar outro AMOR não estaremos sabendo o que é o verdadeiro AMOR. Ele na verdade é algo que se constrói minuto a minuto.”*

A gratidão por ter conhecido sua história, e as outras tantas por aqui agora compartilhadas, é imensurável, colaborando, ainda mais, para possa sempre acreditar em sentimentos verdadeiros, ora um pouco acinzentados pela dinâmica das facilidades atuais, mas que volta a se avivar com intensidade para quem acredita e constrói um caminho verdadeiro.

37 aqui, 37 lá. 74 no total. O Ano que começamos eternas primaveras.

Marcelo [Ciello] Poloni

*Citações de Paulo Braccini


e tem mais…

Ps.: Logo abaixo, o áudio de uma entrevista com Paulo Braccini, diretamente do blog [YAG – Na contra-mão]. Agradeço ao Hugo pelo áudio e ao Serginho, com a entrevista do Paulo no Blog [Justo e Digno], que autorizaram a divulgação e uso de seu material aqui disperso em minhas crônicas.



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  Brownstone & Barry White - If you Love Theme by Bangers and Mash

sábado, junho 18, 2011

Perfume de Jasmim

“Dependerá de nós chegarmos dificultosamente a ser o que realmente somos. Nós, como todas as pessoas, somos deuses em potencial. Não falo de deuses no sentido divino. Em primeiro lugar devemos seguir a Natureza, não esquecendo os momentos baixos, pois que a Natureza é cíclica, é ritmo, é como um coração pulsando. Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama “eu existo”, a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.”(Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres)

Como era de se esperar, fiz uma coleção de citações do livro. Não aguento ficar longe delas! Acho que é um vício que tomo consciência no amplo sentido de sua existência. São momentos pessoais de interpretação literária que pode ser diferente ou, muitas vezes, igual a de outra pessoa, mas são únicos enquanto leitura interna de minha alma. Importante é que fiquei muito satisfeito com esta imersão em um livro cujo sentido amplo da descoberta vai da angústia de não saber "ser" ao êxtase máximo de se encontrar por completo e poder assim doar-se em plena sintonia com outrém.

Partindo agora para a imensa descoberta de novos mundos e de novas experiências sem deixar de levar na bagagem um pouco daquilo que aprendemos e que, demasiadamente esquecemos, é o motivo que me faz guardar as memórias da leitura em arquivos, blogs, murais e saudades. Compartilhar é preciso, pois faz de sua existência um significado maior que a individualidade do pensamento. Aceitar novas interpretações também é expandir o universo de possibilidades e sensações, e diariamente transformando seu modo pessoal e único de entender ou compreender a vida que segue.

E eis que a pergunta mais complexa de ser respondida e que não tem, definitiva a certamente, uma resposta certa, pois depende de cada um em sua individualidade, se abre para mais uma possibilidade metafórica de interpretação, segundo Clarice Lispector:

“Quem sou eu? Perguntou-se em grande perigo. 
E o cheiro do jasmineiro respondeu: 
- Eu sou o meu perfume”.

Marcelo [Ciello] Poloni

segunda-feira, junho 13, 2011

Refúgio das Palavras Francesas

E ele foi...

Já tinha estudado a vida e cursado sua trajetória. Aventurou-se pelo caminho efervescente de novidades da capital paulista para ser mestre em saber. Pública universidade, professora de vaidades, trapaceou suas expectativas. Dissertação perdida no desenlace de suas letras bem escritas.

Sentou à margem da estrada para pensar. No social caminho das esmeraldas pelos rincões de Goiás ganhou um pouco de vida. Sem maiores expectativas aceitou aquele convite de ir além. Com sua modesta poupança de alguns tostões seguiu o caminho de tantos outros na sorte de ganhar muito mais que a vida.

O rapaz das palavras francesas abandonou sua fluência para aventurar-se por outra linguagem falada na América terra dos das oportunidades. Foi mais uma vez ludibriado em histórias mal contadas. Lançado ao choro de outra vida tinha pouco tempo para ganhar a sua. Mãos atadas, limpeza forçada, necessidade de quinhão. Procurou em afetos classificados quem lhe afagasse tanta desilusão.

O encontro marcado com aquele olhar nostálgico dos anos 70 revolucionou seu coração até então sofrido. Um resgate de sua alegria e daqueles sentimentos de companheirismo. Nunca mais se afastaram. Libertou-se daquele convívio nefasto de abusos infantis. Denunciou aquele casal “amigo” e foi-se embora para um novo encanto. Certeira morada de tanto afeto, carinho e atenção.

Tentou mudar sua condição de visto vencido estrangeiro coração. Se cá viesse, para sua pátria nação, pela lei severa, imposta condição de não poder voltar para os braços de sua americana e não reconhecida comunhão. Qualquer tentativa seria a declaração de exílio por tanto tempo que definharia em saudade.

Há nove anos Dino refugia-se em clandestina vida bem moldada no convívio de seu relacionamento com Paul. Vivem bem e, apaixonados, cada vez mais não conseguem se imaginar separados. Dino colocou-se agora a escrever neste nosso convívio de tantas letras portuguesas. O garoto das palavras francesas encontrou enfim a liberdade tão sonhada naquelas palavras inglesas de seu amor incondicional.

...e nunca mais voltou.

Marcelo [Ciello] Poloni

  Calling you ( Bagdad Cafe Soundtrack ) Cover /Javier De La Cruz

domingo, junho 12, 2011

Desejos Transpirados

O calor escorria pelas paredes. O tentação corria pelo sangue quente de suas veias. Transpirava libido por sua pele. Latentes desejos para serem saciados em outro corpo. Cena da vida real consumada ardentemente no vapor daquela sauna, sem a fantasia do amor idealizado, sem a praia com o pôr-do-sol perfeito, sem aquele céu tombado em nuances ocres de Florença ou num café servido por Amelie em Paris. “Tudo só uma questão de cenário. Quando o enredo é bom, o cenário depois a gente inventa. O que não dá é ficar vivendo num cenário lindo a espera de um enredo que nunca acontece.”*

Na fila das afinidades Edward e Luciano se encontravam em extremos opostos, mas a ciranda da vida fez o favor de colocá-los lado a lado, como numa brincadeira de roda, transformando a fila em círculo e unindo suas mãos no exercício diário da convivência, da superação das diferenças de gostos pessoais tão distintos. Alquimia cujo ponto de fusão é a maturidade.


Uma história para se ter como lição para vencer preconceitos e paradigmas, como o de que “alguns lugares” não seriam para se começar um relacionamento. Não existem regras ou códigos pois, firmou-se, no suor de seus corpos, há 10 anos, um relacionamento consolidado e levado por um pulso firme, por um muque de peão.

Marcelo [Ciello] Poloni

* citação do protagonista desta história de encontros pela vida.

A Case of You (instrumental cover) by John Housley

segunda-feira, maio 23, 2011

Olhar menino de sonhos eternos



Hoje ele alimenta seu corpo, proteje sua alma. Criou mecanismos para não se entregar aos sentimentos como um ingênuo sonhador que foi um dia. Recolhe-se agora, e temporariamente, para recuperar suas forças, no cantinho familiar que sempre o abrigou na infância e adolescência. Àquela época onde vivia o dilema de não entender os porquês da vida e de ser fechado em um círculo de proteção familiar exagerado. Duas mães e avós maternos que recolhiam o "pequeno príncipe" à uma ingenuidade quase infantil aos 14 anos.

Sem uma figura paterna e sem um rumo certo, orientação ou conselhos amigos, colocou-se cara a cara com todas as adversidades sem saber se defender. Passou constrangimentos por não ter a esperteza que se esperava de sua época. Descobriu a vida sozinho e assim cresceu sem ter que o compreende-se. Percebeu tarde demais que uma amigo de infância o protegia das maledicências e não pode agradecer-lhe a altura de sua bondade.

Com o tempo descobriu que seu desejo tinha feições masculinas e não soube evoluir em tempo de aproveitar sua adolescência, marcada antes pela paixão meiga por uma colega de escola. Platônico em coração apenas, nunca foi além, sua vida fechada o limitava em lidar e saber como relacionar-se além dos sonhos. Fechado em seu mundo particular de anseios pelo que existia além dos muros do seu lar maternal ficou por muito tempo a estudar a vida pela janela de sua imaginação.

Demorou a encontrar seu caminho. Sua vida nunca foi fácil e tampouco tinha recursos para libertar-se. Suas opções limitavam-se ao que era imposto pelos recursos familiares. Fez tudo o que os laços familiares quiseram que tivesse feito e fez com maestria. Estudou muito ser ter um motivo. Foi aluno exemplar mas não era a sua vida. Sobrevivia de esperanças.

O tempo é cruel e sem saber como se aventurar, sem recursos e sem expectativas, deixou-se novamete levar pelo apelo familiar e estudou um pouco mais para conseguir aquele emprego que no passado era glorioso e hoje é como um outro qualquer. Venceu! e a partir daí, mesmo diante dos poucos recursos que dispunha, começou sequenciais transformações. Tomou as rédeas de seu destino e seguiu em rompantes frenéticos de reconquista do tempo perdido.

Depois de tantos anos faz hoje uma avaliação efetiva daquilo que lhe valeu a pena e percebe que será eternamente um coração menino cheio de sonhos mas que, no presente, faz da realidade uma realização gradativa concreta de suas conquistas a cada novo passo que toma em direção ao seu bem estar, em busca pelo que considera ser um encontro com a sua vida, ainda em evolução constante. Seu mundo imaginário de outrora agora forma-se diante de seus olhos curiosos.

Marcelo [Ciello] Poloni.

domingo, fevereiro 27, 2011

Perto do Fogo

Os caminhos que nos levam ao futuro não são simples de se seguir. Daqueles que já passei tenho muitas feridas e muitas recordações maravilhosas. Não devo julgar as pessoas pelos seus atos, presentes ou passados, apenas tenho minhas idéias e ideais do que quero para mim e não desejo menos para os outros, desde que eles acreditem em si e naquilo que dizem.

Sou muito passional e tenho dentro de mim uma certa bondade de Amelie Poulain que tanto cito por aqui. Se catalogar meu extrato de vida, ajudei muito, ouvi muito, senti muito a dor e a alegria dos outros. Sempre tento fazer com que as coisas funcionem com justiça e felicidade.

Percebo que tenho um princípio de doação ao outro. Me entrego e me abro com a maior facilidade. Da mesma forma volto a cena do filme que questiona através da análise de um quadro o essencial: Amelie diz: "Hummm, pelo contrário. Talvez faça de tudo para arrumar a vida dos outros." Pintor: "E ela? E as suas desordens? Quem vai pôr em ordem?" Acredito que Amelie terá um final feliz mas antes terá que acreditar em si mesma e não deixar que veja da janela de sua casa a vida passar pelos seus olhos.

Já passaram muitos sentimentos por este meu filme pessoal. Entreguei-me a tantos outros. Sai de uma cidade do interior, da casa e do conforto de duas mães, para morar sozinho em São Paulo. Perdi mais de 40kg e reorganizei minha estima própria. Perdi meu amigo de infância por causa da Aids e ganhei uma estrela no céu a me olhar. Encontrei casos, ficantes, paixões e amores. Mantive um relacionamento por alguns anos, sofri com a sua bipolaridade, mas acreditei. Hoje existe um carinho especial apenas.

Fui ao céu e realizei alguns sonhos no Egito e na Turquia, além de grandes realizações pessoais bem próximas: lembro-me até hoje do meu choro menino ao ver pela primeira vez os carros alegóricos da minha querida escola de samba Beija-Flor (sim eu gosto, não interpreto como um bunda-lê-lê fútil e desnecessário - logo mais explicarei).

Estou perto do fogo, me queimo por dentro e, racionalmente, deveria repelir a chama. Não tenho certeza de nada e tampouco saberei pelo tempo que passar. Vou vivendo. Minha anestesia de carnaval se aproxima para abrandar o sentimento. Sou esfinge, sou humano. Sou pergunta e sou resposta. Sou a luta dos que acreditam que ainda existe um olhar de Vênus para ser alcançado em completeza, tanto a minha quanto a dele.

Ao chegar até aqui parece que definho em palavras uma sensação de desilusão pela vida e pelo amor. Não é bem assim. Por acreditar que existe uma revolução em mim, sei que há muito mais em minhas veias. Minha doação, minha passionalidade, meu sentimento, meu bem querer e tudo mais que se interpreta nitidamente por minha sede de encantamento, brilhará eternamente em meus olhos de sonhador.

Marcelo Poloni

autor desconhecido:

"Meu coração e a realidade ainda não falam a mesma língua, mas ainda assim se entendem em uma vontade de concretizar desejos de amor. Então, para amar, só me resta o tentar. Passam tantas pessoas em minha vida e algumas delas me perdem. Porém, não, eu não quero que ninguém perceba mais tarde que me perdeu. Quero que alguém perceba bem cedo que me encontrou."

domingo, fevereiro 06, 2011

Metamorfose da alma


Inspirado pelo final de semana, este blog vai sofrer uma transformação. Que venha meu cisne negro! Já que dias atrás minha amiga "matou a Pollyana", ontem eu matei a Amelie e, hoje, matarei o Cisne Branco.

Transformar é importante! 
Renascer tal qual a fenix, tal qual cada dia que acaba e se inicia em um outro ciclo.  

Sabe quando você tem a nítida sensação de ter visto algo grandioso? Já estive assim em algumas ocasiões na vida. Foram em arte, em amor, em paixão, em sentimentos profundos que tiveram a capacidade de te fazer olhar para o mundo de outra forma.

Já disse um grande poeta - "Sou um sonhador, mas não sou o único" - contudo estou evoluindo para que não sejam apenas fantasias e sim realidades possíveis.

Gostaria de poder mudar muita coisa em mim e não ser tão dedicado às pessoas, deixando de pensar demais nos outros para me concentrar na minha própria experiência. Infelizmente não sou assim e acabo várias vezes me decepcionando. Mas a vida segue...  e questionamentos sempre existirão para longas conversas e descobertas.

Eu ainda acredito que possam existir dois cisnes dentro de cada um de nós, mas um não pode sabotar o outro. Ambos devem acreditar em suas potencialidades e saber explorar aquilo que cada um pode dar de melhor.

Quem contar
Um sonho que sonhou
Não conta tudo o que encontrou
Contar um sonho é proibido

Marcelo Poloni

domingo, janeiro 30, 2011

Eu matei a "Pollyana"!

fone: www.literaturaemfoco.com  
A semana que passou foi tumultuada e longas foram as conversas com minha amiga Gabriela, diretamente do trabalho, a dona da frase "às vezes os excessos são bons"! Ela passou por situações complicadas e, conversa vai, conversa vem, eu joguei a frase na mesa: "Eu matei a Pollyana" (aquela célebre garota que vê o mundo com um lado sempre otimista e esperançoso). Pronto, mentes criativas em ação. Gabi produziu um texto, eu digitei, ampliei e depois melhoramos o conjunto da obra que está logo abaixo:




Eu matei a "Pollyana"
fonte: magicrealm.deviantart.com/art
Sempre fui uma pessimista irreparável, mas minha mãe costumava a me dizer para brincar de "Pollyana": ver algo de bom em tudo e em todos, esquecer das coisas ruins, ou tristes, e buscar sempre o lado "bonito" da vida. Tanto ela insistiu que fui crescendo com esta visão romântica da brincadeira. Mas algo dentro de mim nunca morreu.

“Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?”


Sou cria dos anos 90, sou formada de vazio, de nada. Este vazio que preenche minha alma é uma constante da minha geração, porém nunca foiassunto com os colegas da sala de aula. O vazio me machuca, enquanto alivia os outros, mas minha mãe nunca me deixou sucumbir.


Sempre vivi as margens do poeta e sua filosifia "Eu que sempre soube esconder as minhas mágoas, nunca ninguém me viu com os olhos rasos d'água, finjo-me alegre pro meu pranto ninguém ver, feliz aquele que sabe sofrer", porém, hoje eu matei a "Pollyana"! Deixei cair a máscara de carnaval, deixei mostrar a verdadeira face de quem sofre e tem a mágoa ainda correndo pelas veias.


As coisas da vida são o que são pra mim! Existe o belo e o feio e ponto final. Não quero mais fingir que tudo está bem, quando não está. Porém, não sofro mais. Sofrer é perda de tempo! Se a situação é ou está ruim e não posso mudá-la, sorrir não fará a diferença. Matar a "Pollyana" é mais uma aceitação do inevitável do que um assassinato em si.  É o exorcismo do otimista, o fim do cego que não quer ver, e como todo o fim, um novo começo.


O que é, é o que não é, não existe!


Radical? Instransigente? Exagerada? Talvez. Particularmente acho que souapenas realista. E por essa razão, porque esconder a dor não faz com que ela desapareça, por não aguentar mais procurar algo positivo em tudo, por eu não ler "eu te amo" nas entrelinhas da frase "eu te odeio", e por tudo isso, eu também, e principalmente, porque deixei de acreditar nas pessoas, que matei a "Pollyana"!



Gabriela Capuano.

coprodução e divulgação: eu mesmo,

Marcelo Poloni

ps: Logo eu mato a Amelie Poulain em mim, ou faço um exorcismo!

quinta-feira, outubro 28, 2010

A vida, em 90 minutos!

Se você se questiona qual o sentido de ter uma vida rotineira, de não ter grandes emoções, alegrias ou decepções, amores ou desafetos, intrigas ou mistérios, não se preocupe! A vida não é um filme editado de 90 minutos onde cortes são feitos em cenas do dia-a-dia para dar mais ritmo ao enredo.

Nossas carências, desejos e vontades vem na contramão da sequência temporal de um filme editado. Queremos tudo ao mesmo tempo e nem sempre conseguimos o resultado esperado. O imediatismo não resolve. O tempo cura e renova. Traz de volta o brilho do olhar por algo que não podemos ter certeza, mas é uma esperança. Experimente. O gosto pode ser um conforto, uma tentação e um prazer. Vale a pena?

Vale viver!

Não adianta querer editar nossa vida. Não somos feitos em celulóide cinematográfico. Seguiremos pelo tempo.

Este post é um alento a quem precisa e que como eu, procura viver cada dia em busca de um copo cheio de vida também, para misturar e fazer uma nova batida.

Ele veio de um comentário, noutro espaço e também na vida, que reproduzo abaixo:

As feridas sempre serão marcas. Nossa história não é como num filme que podemos editar e reduzir a apenas aproximadamente 90min de ação e emoção. O tempo é importante para todas as feridas e com ele o bálsamo chega, de onde menos se espera, para dar fim a dor. Mas ainda será marca. Façamos a escolha de valorizar a alegria de bons momentos mas sempre aliados a compreensão de que as marcas são representações de que vivemos um dia algo que também foi felicidade.... olhe para o sol à frente, deixe à sombra, o passado.

Um beijo especial.


Marcelo Poloni


*O filme Corra Lola, Corra, é incrível, dinâmico, elétrico, acelerado e com uma trilha sonora peculiar.... 
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