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domingo, dezembro 18, 2011

O Cortejo do Rei em Sonho Infinito e Multicor




Para muitos é uma perda banal mas para outros tantos representa o final de uma existência regida pela fantasia, criatividade e pela arte de carnaval, que aqui deve ser entendida como catalizadora de tantas outras. Foram nas noites mal dormidas de "minhas mães", diante da TV, que comecei a prestar a atenção em um tradição nacional incorporada de tantas fontes. Acordava nas manhãs seguintes e lá ainda estava a TV ligada, com aquelas imagens coloridas, roupas brilhantes, cenários grandiosos e um som diferente, contando histórias mirabolantes para meu parco conhecimento geral àquela época.

De ano em ano era uma euforia pelos meses de dezembro, janeiro, fevereiro, e às vezes, até março! Ansiava pelas noites de carnaval em busca do espetáculo, da magia, da alegria e da intuitiva fonte de novas histórias a descobrir. Preparação prévia vinha com aquela fita K7 que comprava e decorava como lições da escola, aqui regida pelo samba-enredo. Nesta escola de muitos mestres, a grande aula, daquele que se tornou o rei da folia, era regida pelo extraordinário.


Olha o Luxo Ai Gente!
O Alegoria decorada com bacias
de alumínio para lavar roupa 
e com pratinhos de plástico! 
A criatividade é o Luxo.
Fenícios, Reis de França, Salomão e a Rainha de Sabá, Sonhos e Animais, A Criação do mundo, O Olho Azul da Serpente, Estrelas Negras, Adão e Eva na Lapa, Alice no Brasil das Maravilhas, Os Negros Egípcios e o óbvio: Todo mundo nasceu Nu! Histórias, lendas e muitas criações originais! O Paraíso da Loucura era aquele momento. Do história do teatro as histórias do futebol, ARTE! Resumida em um espetáculo popular.

“Eu não mexi nas raízes, apenas arrumei vasos mais bonitos para elas!" Joãozinho Trinta

Foi em uma manhã de terça-feira de carnaval, já sonolento e ansioso pelo encontro com sua arte, seu estilo já bem enraizado na minha concepção de beleza e estética que houve um rompimento dramático. O que via ali me deixou em estado de choque, em transe. Foi complicado digerir e entender, em um primeiro momento, com aquele conteúdo cultural ainda em formação lá pelo ano de 1989, aquela ousadia, aquela total transformação de valores.


Vi mendigos, pessoas sujas com roupas rasgadas, feias. Vi lixo, vi urubus e uma faixa enigmática de uma estátua enrolada em plástico preto de lixo. Um oposto do brilho ofuscante de tantos outros carnavais. Fiquei prestando atenção aos comentários. Entendi pouco, e aos poucos, do desfile àquele momento, apenas torci, era intuitivo!

"Atenção mendigos, desocupados, pivetes, meretrizes, loucos, profetas, esfomeados e povo da rua... Tirem dos Lixos deste imenso País, restos de luxo e façam a sua fantasia e venham participar deste grandioso Bal Masqué!" (texto do convite apresentado em forma de alegoria no desfile da Beija-Flor para o seu carnaval de 1989 - Ratos e Urubus, Larguem minha fantasia.)



Compreendi, enfim, tempos depois, que naquele momento nossa sociedade "moderna" era representada por verdades épicas em forma de metáfora, crítica, ironia e protesto. Aconteciam, ao mesmo tempo, todas as artes plásticas, o drama e a comédia se misturaram, a poesia e a prosa se fundiram. Uma catarse de sentidos, sentimentos e valores. Foi a partir daquele momento que reafirmei meu gosto pela cultura, meu gosto pela ARTE. Devo grande parte de tudo isso a ele, o Grande Mestre Joãosinho Trinta.

"Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo." Joãozinho Trinta

Não podemos esquecer de que o "luxo" a que se referia Joãosinho Trinta ia muito além daquele quantificado e qualificado em coisas materiais. Ultrapassa esse pensamento superficial que muitas pessoas (normalmente pouco esclarecidas da questão) têm sobre a "riqueza" do desfile das escolas de samba. É esse o luxo que sua genialidade propunha para o povo e que o este tanto gostava: A Criatividade!

Que seu cortejo rumo a infinito seja tão grandioso quanto foi a sua passagem pela Terra e, sobretudo, pelos meus nossos sonhos.

Marcelo [Ciello] Poloni

“Joãosinho Trinta poderia ter dito, mas não disse: nem mesmo o nosso melhor teatro consegue do público a participação que acontece no desfile das escolas de samba”. Sérgio Britto, ator e diretor que também partiu no cortejo rumo ao infinito, nesse triste dia 17 de dezembro, para o livro “O Brasil É um Luxo”.



quinta-feira, maio 26, 2011

Carta Esculpida de Arte


Fui ao teu encontro estrela cadente do meu céu de tantas possibilidades. Busquei por teu corpo e alma em cada canto desta selva - fonte de tantas outras perdições neste tempo árido de sentimentos puros - pois sabia que abrigavas a chama de um coração verdadeiro, bruto, ilimitado e complexo.

Vi, por tuas mãos pequenas, delicadas e dilaceradas no ofício que a conduziste do amor, pelos caminhos da paixão, como presa fácil, às grades da loucura, realizações materiais que, mesmo estáticas neste tempo que passou, deram-me impressões fluídas de teus desejos. 

Li teus apelos desesperados àquele que te prometia cumplicidade duradoura, que nunca cumpriria de fato, e me comovi com cada gota desta tinta que corroeu tua alma, aprisionando teus sentidos. Senti tua presença naquele átimo de vida em forma de papel, letras e ruídos de saudade.  

Fiz deste momento de observação de tua vida em arte, um encontro sublime de fruição contemplativa. Chorei por ti. Chorei por mim. Chorei por nós. Naquela tarde de domingo éramos únicos, partes entrelaçadas de um mundo perfeito, agarrados a nossa mais pura verdade, embriagados de carinho e esperança.

Descobri, naquele dia, um sentimento único por ti em teus olhos perdidos no infinito, que não ficaram tão conhecidos, pois, injustamente, mantiveram-se à sombra de teu mestre, razão de teus sentimentos, devoção e destruição. 

Saí do teu mundo, naquele átimo de meu tempo, conhecendo a fundo a tua essência de vida e de arte, traduzida em metal, mármore, gesso e sentimentos espalhados por cartas esculpidas de paixão, em tua loucura. 

Entrei hoje pelo presente das minhas memórias à lembrar de ti e daquela primeira grande exposição de arte - da tua arte, Camille Claudel! - que definitivamente foi sensível ao início da jornada de sonhos e verdades ao coração.

Marcelo [Ciello] Poloni

* relato de um tempo menino, descobridor de artistas e sentimentos, lá em 1997  e da exposição Camille Claudel, projeto Pinacoteca no Ibirapuera.

* para saber e ver mais: [AQUI]
* ver, ouvir e sentir: [AQUI]
* Cartas de amor em arte: [AQUI]
* A artista que amou demais: [AQUI]
* Trailer oficial do filme Camille Claudel, 1989: [AQUI]
* Sessão pipoca, um encontro perfeito entre Adjani e Camille... uma cena, um fragmento e o encontro com a sensação de viver a paixão em arte:



segunda-feira, maio 23, 2011

Olhar menino de sonhos eternos



Hoje ele alimenta seu corpo, proteje sua alma. Criou mecanismos para não se entregar aos sentimentos como um ingênuo sonhador que foi um dia. Recolhe-se agora, e temporariamente, para recuperar suas forças, no cantinho familiar que sempre o abrigou na infância e adolescência. Àquela época onde vivia o dilema de não entender os porquês da vida e de ser fechado em um círculo de proteção familiar exagerado. Duas mães e avós maternos que recolhiam o "pequeno príncipe" à uma ingenuidade quase infantil aos 14 anos.

Sem uma figura paterna e sem um rumo certo, orientação ou conselhos amigos, colocou-se cara a cara com todas as adversidades sem saber se defender. Passou constrangimentos por não ter a esperteza que se esperava de sua época. Descobriu a vida sozinho e assim cresceu sem ter que o compreende-se. Percebeu tarde demais que uma amigo de infância o protegia das maledicências e não pode agradecer-lhe a altura de sua bondade.

Com o tempo descobriu que seu desejo tinha feições masculinas e não soube evoluir em tempo de aproveitar sua adolescência, marcada antes pela paixão meiga por uma colega de escola. Platônico em coração apenas, nunca foi além, sua vida fechada o limitava em lidar e saber como relacionar-se além dos sonhos. Fechado em seu mundo particular de anseios pelo que existia além dos muros do seu lar maternal ficou por muito tempo a estudar a vida pela janela de sua imaginação.

Demorou a encontrar seu caminho. Sua vida nunca foi fácil e tampouco tinha recursos para libertar-se. Suas opções limitavam-se ao que era imposto pelos recursos familiares. Fez tudo o que os laços familiares quiseram que tivesse feito e fez com maestria. Estudou muito ser ter um motivo. Foi aluno exemplar mas não era a sua vida. Sobrevivia de esperanças.

O tempo é cruel e sem saber como se aventurar, sem recursos e sem expectativas, deixou-se novamete levar pelo apelo familiar e estudou um pouco mais para conseguir aquele emprego que no passado era glorioso e hoje é como um outro qualquer. Venceu! e a partir daí, mesmo diante dos poucos recursos que dispunha, começou sequenciais transformações. Tomou as rédeas de seu destino e seguiu em rompantes frenéticos de reconquista do tempo perdido.

Depois de tantos anos faz hoje uma avaliação efetiva daquilo que lhe valeu a pena e percebe que será eternamente um coração menino cheio de sonhos mas que, no presente, faz da realidade uma realização gradativa concreta de suas conquistas a cada novo passo que toma em direção ao seu bem estar, em busca pelo que considera ser um encontro com a sua vida, ainda em evolução constante. Seu mundo imaginário de outrora agora forma-se diante de seus olhos curiosos.

Marcelo [Ciello] Poloni.

segunda-feira, abril 18, 2011

Noite Amanhece Dia

Noite Branca, 
Noite Insônia, 
Virada!
Noite Ópera,
Noite Clássica, 
Cantada!
Noite Língua, 
Noite Portuguesa, 
Falada!
Noite Escultura, 
Noite Pintura, 
Admirada!
Noite Dorme, 
Noite Acaba, 
Calada!


Dia Dança, 
Dia Balé, 
Movimento!
Dia Calor,
Dia Solar, 
Protejo!
Dia Alimenta, 
Dia Descansa, 
Atento!
Dia Alma, 
Dia Conversa, 
Desabafo!
Dia Termina, 
Dia Sonha, 
Alento.

Marcelo Poloni

Tudo merece e deve ter seu espaço em eventos como a Virada Cultural,  mas este ano foi uma overdose de shows de música e um fiasco em relação às instalações e eventos de integração pública baseada na convergência de diversas artes. Por que não trouxeram grupos teatrais e instalações grandiosas como em edições anteriores?

Onde estão: os anjos poetas franceses na Catedral da Sé? A ode ao fogo no Parque da Luz? A harpa monumental da Praça Ramos? O canto das sirenes da Praça do Patriarca? Enfim, senti falta. Meu protesto fica aqui registrado!

quarta-feira, março 09, 2011

Artes de Carnaval

Carnaval 2011 - Mocidade Independente - Armação - 
Máscaras de Veneza e as origens do carnaval

União da Ilha 2011 
Charles Darwin no Jardim Botânico carioca.
Tempos atrás resolvi fazer um blog sobre as "artes do desfile das escolas de samba" e não evoluí na proposta pois, ufa, dá pano pra manga, babados, confetes e serpentinas, além de muita dedicação.
Não tentarei convencer ninguém do meu ponto de vista e de como visualizo, pelos meus muitos anos acompanhando de longe e "in loco", o trabalho, a execução e a apresentação deste universo de múltiplas artes, marginalizado por grande parte da pseudo-sociedade dita "erudita" que torce o nariz para nossas raízes.
Também não pretendo dizer que tudo são flores (existe muita lama) e tampouco diminuir sua função "entretenimento" em favor de minhas idéias, mas não posso diminuir sua importância enquanto resgate de nossa memória e cultura.

Comissão de Frente e Abre-Alas
Um desfile para muitos olhares


Carnaval 2011 - Grande Rio - Armação
Copinhos de plástico para representar
o fundo do mar de corais.
O desfile das escolas de samba, em meu ponto de vista, é a convergência de diversas artes em um espetáculo midiático com diversos produtos e oportunidades. Com uma diversidade de assuntos e temas, foi o cerne de meus trabalhos para o curso de Design Gráfico (projeto de produto, fotografia e instalação) e para o curso de pós-graduação em Comunicação e Mídia.


Os carros alegóricos na 
Av.Presidente Vargas - Carnaval 2011 - 
União da Ilha e o Mistério da Vida,
 um história de Charles Darwin.
“Com seus carros que serão levados para a avenida crescendo a cada dia, o barracão se constitui num espaço crítico em que se pensa, se realiza e se aprende arte. Numa acepção ampla, carnaval não designa portanto a festa simplesmente, mas todo o processo que nela desemboca.”(Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, O rito e o tempo: ensaios sobre o carnaval, 1999.)


Mocidade 2011 - 
Parábola dos Divinos Semeadores
Costumo tirar muitas fotos da "armação" das escolas de samba do Rio de Janeiro – espaço aberto à visitação pública – na Avenida Presidente Vargas – para registrar detalhes, referências e o trabalho não percebido na hora do desfile de fato, seja pela tv ou por quem esteja no "sambódromo". Considero a "armação" como um museu a céu aberto onde os artíficies anônimos do carnaval mostram suas obras de modo estático, para o deleite das milhares de pessoas que por aquele espaço transitam nas tardes de pré-desfile.

Beija-Flor 2011 - 
A Simplicidade do Rei
Na armação são dados os últimos retoques nas alegorias e efetuados os últimos testes de som e luz, geradores e demais maquinários utilizados para que o desfile seja completo e íntegro na apresentação aos julgadores, tornando-o um momento único em seu desfile. Adianto que, uma foto, vídeo ou mesmo aquilo que possa ser aqui descrito, não traduzem a grandeza e a emoção de presenciar o desfile, seja como admirador ou mesmo como um folião que veste a fantasia e brinca de ser quem não é pelo tempo limitado de um desfile de artes diversas, congregadas em uma só.

Já em desfile, o mesmo carro Abre-Alas
 que pode ser visto na foto da armação acima. 
União da Ilha e o Mistério da Vida, 
homenagem a Charles Darwin.
“Considerar o Carnaval supérfluo é desconhecer que nós brasileiros recriamos a identidade no ato de brincar, virar príncipe ou princesa, grego ou tirolês, personagem de um cenário dionisíaco onde todos são outros e, assim, mais eles mesmos. A cultura está nos Lusíadas e no Quixote, mas ainda na versão carnavalesca dos clássicos. Minimizar esta é negar o direito de sermos nós mesmos e existir.” (Betty Milan, A República do Samba. Folha de São Paulo, São Paulo.)

As pessoas que não conhecem este universo paralelo ao "bunda-lê-lê" - tipicamente sensacionalista de "reis, rainhas, popozudas, maludos, piriguetes e cafas oportunistas, pseudo-celebridades datadas, turbinadas e vazias - acreditam que "escola de samba é bagunça! Ledo engano. É trabalho para mais de 10 mil pessoas. Gera lucro e é encarado como empresa, sem deixar de lado o charme e a nostalgia, o lirismo e a arte de "Paulinhos" da Viola da Portela, "Cartolas" da Mangueira ou "Martinhos" da Vila, a Isabel.

O carnaval veio das Saturnais e da festa do boi Ápis, das festas agrárias egípcias, gregas e romanas de sagração da colheita e da primavera em tempos de fartura. Foi datado pelo calendário cristão como sendo o momento de extravasar os desejos antes do período de reclusão da quaresma. Seguiu pela idade média com a sociedade se escondendo em bailes de máscaras. Chegou com o festejo português do Entrudo ao Brasil e misturando-se ao ritmo dos tambores e danças africanas, o mistico e a arte plumária indígena, promoveu, com o tempo, a evolução de dos diversos cortejos - ranchos, corsos e cordões - em um múltiplo somatório de suas artes, chamado Escola de Samba.

As artes cênicas - Tijuca 2011
Joana D'arc carnavalizada
E assim começa o meu desfile de opiniões sobre esta grande catarse de todas as artes.... bem vindo a festa.

“Nesse país, uma escola nunca teve crise de aprendizagem: A Escola de Samba” (Sebastião Rocha, Antropólogo, Educador, Mentor do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, Prêmio Empreendedor Social 2007).

Ah... sem se esquecer da alegria e da diversão... podemos ganhar outras coisas também... venha pra festa você também. 
União da Ilha 2011 - O Mistério da Vida 
entre outros mistérios da avenida...
 Marcelo Poloni

sexta-feira, março 04, 2011

O Rio corre pro Mar...

Enfim, lá estava eu com minha prima. Guia básico de bolso, da estação Glória até a Central. Chegou o momento tão esperado depois de tantos anos por detrás de uma imagem de televisão. Saímos meio que desconfiados, campo novo a ser explorado. Tarde ensolarada, e muita gente indo e vindo com fantasias, bate-bolas e uma infinidade de vendedores ambulantes.

Começo a ficar cativado por um brilho que vinha de longe. Brilho de ouro fosco não tão reluzente como aquele que costumamos observar. Num susto muito grande, não espera estar diante do Abre-Alas da minha escolha de samba, assim tão de repente. Não me contive, lágrimas rolaram. As pernas tremiam por todo o trajeto. Maõs suavam frio. Enfim, o sonho tinha se materializado e foi captado em vídeo e diversas fotos, que guardo com o mairo carinho até hoje.

Estudei a fundo a Saga desta escrava guerreira, mineira, princesa de Daomé. E lá estava ele representado no carro Abre-Alas, O Palácio de Dâxome, ornamentado e referênciado com tótens e esculturas africas, antilopes, rinoscerontes e gazelas. Segui para outros carros, ávido para ver tudo, registrar tudo. Estava sim, eufórico. Vi o Mercado, a Feitiçaria, o Cortejo pelo mar, A Bahia dos nagôs, os tambores do Maranhão, a Casa das Minas. Enredo completo, Agotime mostrada desde sua vida de princesa no Daomé, sua escravidão, sua liberdade, até fundação de seu sua religiosidade em terras brasileiras. Uma aula de história não contada na escola.

Nesse passeio tive a companhia de uma simpática senhora carioca e portelense, Dona Marisa, que confessou nunca ter desfilado pela sua escola mas que era seu sonho, coisas da paixão. Encontrou-me emocionado vendo as alegorias pela primeira vez ao vivo e começamos a conversar. Não conhecia tão bem o enredo e prontamente esclareci o que cada alegoria significava dentro da Saga de Agotime. Muito simpática e receptiva deu-me os parabéns pela minha paixão, pela minha alegria e emoção. Coisas do coração.

Confesso que não foi fácil sair daquele universo paralelo de artes e ofícios, manufatura e indústria de carnaval. Queria registrar tudo, queria ver tudo. Pensamentos soltos naquela avenida e diante de tantas outras alegorias de carnaval que existem por por um ou dois momentos de desfile e que, 30 dias após o carnaval, são recicladas ou vendidas em partes e que nunca mais vão constituir aquele todo que ficou na minha imaginação.

Não acaba ali a emoção. Faltava ainda o desfile. Momento onde aqueles carros se transformariam novamente em efeitos, luzes e novas cores agregadas a arte já presente de forma estática, como num museu. O desfile é uma grande obra, uma epopéia barroca, um cortejo em catarse plena de diferentes mídias, de diferentes emanações da beleza natural de nossa cultura. Esqueça o bunda-lê-lê! Aqui vejo uma fusão entre fantasia e realidade, criação e fruição de todos os sentidos, de todas as cores, de todas as artes.

E assim desfilam pela minha vida, nestes últimos 30 e poucos anos, memórias que se renovam e se agregam a cada novo carnaval que chega e que passa, e a cada mundo novo descoberto pela visão particular que tenho desta fábrica de sonhos.

Ecos de um desfile...

"E se o Carnaval não fosse só o dia do esquecimento? Se ele fosse nossa memória? A repetição da fantasia que fez os descobridores, a de um dia entrar no Paraíso. E se o Carnaval fosse sobretudo a reinvenção permanente do Brasil para si e para os outros?" (Bete Milan, Os Bastidores do Carnaval, 1994)

Marcelo Poloni

ps: fica registrada aqui que minha visão lúdica das escolas de samba não pretende esconder um outro lado nada fantasioso que existe por detrás das cortinas do espetáculo. Não devemos esconder a sujeira. Devemos limpá-la. Hoje em dia nem tudo são flores, mas já se fizeram grandes avanços. Problemas, de qualquer forma, não as diminuem em importância como divulgadoras de nossa história, de nossa cultura, de nossa memória.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

O Encanto de Vênus


Um dia uma professora de literatura e redação trouxe-me esta imagem, nesta mesma proporção, e pediu a criação de uma redação sobre "a sensação que sentíamos ao admirar estes olhos".... me apaixonei por eles e "sempre os procuro pela vida"... encontrei alguns... mas ELES não quiseram me encontrar, fiquei pelo caminho das palavras... Mas eu não desisto...

Representar sensações em palavras pode ser um exercício de abstrato-real indescrítivel e revelador jogando para fora de nossa consciência, a verdade e a vontade de ser. Gostar não tem explicação. Sem qualquer remorso, devemos viver totalmente nossa vontade de ser.

Fiquei encantado pelo quadro que originou esse recorte para a vida toda: "O nascimento da Vênus" Sandro Botticelli, pintado entre 1483 e 1485, Galeria Uffizi, Florença - IT. Quem quiser aproveitar mais essa maravilha que o google trouxe, Google ArtProject, comece por uma das minhas seleções: http://www.googleartproject.com/museums/uffizi/the-birth-of-venus?hash=23502231-2192-4323-88bf-a078fcc686e1

Nunca estive diante de tal obra e olhar na vida real, é um dos meus sonhos e futuras realizações poder encontrá-la frente a frente em Florença. Imagino minha reação e sei que ficarei comovido.

Dos meus gostos e amores pela vida retiro minha essência passional, que se entrega, que se consome e, que muitas vezes, se refaz tal qual a fênix, que desenhei, e que ilustra hoje o topo do blog.

Marcelo Poloni

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Caminho para a eternidade

Fiz um esboço de fenix antes das aulas de estilização. Não foi de observação ou de sobreposição de papel vegetal, trabalho com massas de cor, luz e sombra. Começou com a cabeça, asas e um resto de corpo que não coube por completo naquele papel em 2006. Ficou lá parado na minha pasta de desenhos de prancheta. No sábado, depois de saber que "não poderia receber nada a altura do carinho", senti que precisava finalizar aquele esboço e lá fui eu digitalizar o passado, hoje tão presente em essência, que fica, e não um perfume, que evapora pelo tempo.

Sente na pele,
Queima
Arde
Solitária
Vida.
Paira no corpo
Divina
Renasce,
Fênix.

E que um dia será minha tatuagem, exclusiva, única, e que um dia, quem sabe, possa estampar um outro alguém... mas isso é uma outra e longa história para ser contada e vivida.

Marcelo Poloni

terça-feira, janeiro 11, 2011

Oráculo da Noite: a Oportunidade, o Impulso, a Chave

SALVADOR DALI 'couple with their heads full of clouds' (1937)
"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a Oportunidade, o Impulso, a Chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo." (Hermann Hesse)

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Vênus através de Sagitário

- O Nascimento de Vênnus 1482 - Botticelli - Galleria degli Uffizi, Florença -
"(...) Sob o seu símbolo, reina no ser humano a alegria de viver, na festa primaveril de embriaguez dos sentidos e no mais refinado e espiritualizado prazer da estética. Seu reino é o da ternura e das carícias, do desejo amoroso e da fusão sensual, da admiração feliz, da doçura, da bondade, do prazer e da beleza. É o reino daquela paz de coração que chamamos felicidade." (Chevalier e Gheerbrant)

Não resisti, um dos quadros que eu mais admiro e que um dia estarei frente a frente para observar em detalhes, especialmente a intensidade dramática dos olhos da Vênus que foi, tempos atrás, material único, para uma aula de redação.

Marcelo Poloni

Mais uma vez obrigado João Cagnin, que colaborou com a ligação lírica com o texto acima.

segunda-feira, novembro 22, 2010

Coletivo de Sonhos Diversos


Não basta ouvir, precisamos ver.

Não basta ver, precisamos sentir.
Basta? 

Viver intensamente aquele momento único da vida que nos define como parte de um coletivo e este, em total sintonia com uma única fonte, transforma qualquer sensação em sonho realizado. A euforia se mistura com a ansiedade e modifica tempo e espaço, que vai para além da compreensão física. Perdemos os sentidos numa catarse uníssona e radiante.

A junção das emoções se reflete em manifestações corporais, sentimentos aflorados, pensamentos vibrantes e arrepios intermináveis para além da compreensão daqueles que não tem essa "paixão" latina. Intensidade, calor, devaneio! Estamos todos próximos do divino quando assim nos encontramos naquele momento.


Você não está só!
Eu te compreendo.
Sei bem como é!
Não somos frutos de uma sociedade pasteurizada que nos força a um "viver" limitado, sem expressão, medíocre.

Podemos ser mais e devemos ser nós mesmos.

Conviver em completa comunhão com nossas alegrias é encontrar o divino a cada instante.

Trabalho, rotina, burocracia? Devemos e podemos conviver com tudo isso também! Mas fazer nosso caminho da melhor forma, colhendo os frutos do trabalho e aplicando em nossas alegrias, das mais comuns e mundanas às mais elaboradas e especiais. Dar-se ao prazer do ócio também. Se faz necessário repor e compor nossa mente de vazios para que esteja sempre fresca e ávida por novidades mas sempre guardando em memória aquilo que lhe é mais caro, raro e em essência, único.


Não há quem explique a relação de um fã, seja ele de qualquer idade, com seu ídolo, sua fonte de energia.
Há um coletivo de sonhos diversos
ARTE
em todas as suas variações. 
Estamos todos juntos.
Nós merecemos. 
O ser humano se encontra, muitas vezes, não no reflexo, mas na diferença.

Marcelo Poloni


Dedicado aos fãs e a todos os seus ídolos


terça-feira, setembro 28, 2010

Um passeio diferente...

Depois de dar uma volta pela Bienal no domingo, mesmo tendo visto tudo em ritmo acelerado, hoje resolvi aproveitar uma "certa lacuna de tempo" na minha jornada de trabalho semanal e resolvi instigar a curiosidade dos meus estagiários.


Com o apoio de meus chefes e companhia de alguns colegas resolvi montar um grupo para visitar a 29ª. Bienal de Arte de São Paulo. Lá vou eu tentar apresentar um pouco da arte produzida pelo mundo todo, convegente nas instalações do Parque do Ibirapuera. Não sou tão gabaritado para a empreitada, mas, de fato, o intuito do passeio é proporcionar uma alteração na rotina e uma abertura na mente dos meus estagiários, que, em geral, não conhecem o universo das artes plásticas.


O que eu quero com isso? Definitivamente me deixa muito contente e satisfeito o fato de que eles, mesmo que demorem muito tempo para realizar outra visita desta natureza, e muitas vezes não o farão se não for por uma certa imposição escolar, possam ter um outro olhar, uma ruptura com as rotinas e uma inserção de conhecimento, arte e cultura em suas vidas, mesmo que seja apenas de passagem.


"A imaginação é mais importante que o conhecimento" e "A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.", ambas citações do gênio Albert Einstein, cabem bem aqui neste contexto. Espero que eles também possam ampliar os horizontes...

Marcelo [Ciello] Poloni

segunda-feira, setembro 27, 2010

Somos ainda "Um perigo tão antigo quanto o ser humano”

Hoje fui dar uma volta na Bienal e ver e sentir e interagir e assistir e ouvir e tudo mais que a "nova arte moderna" pode causar... bom... não deveria comentar nada a respeito, seja com profundidade ou significado interno e pessoal, pois serão necessárias outras visitas com mais calma... mas não posso deixar esta instalação sem os méritos que merece na estréia deste assunto nestas bandas do mundo blogueiro... 

Me chocou e, provavelmente vai fazer você parar e refletir sobre o quanto de "animal" o ser humano pode armazenar em si mesmo. A obra-instalação de Alfredo Jaar interfere  no cotidiano das pessoas no que diz respeito a sensação de que "existem coisas acontecendo no mundo e nós estamos apenas observando do alto de nossa lente de aumento"... 
Obra: The eyes of Gutete Emerita
Quatrocentas pessoas da minoria Tútsi, entre homens, mulheres e crianças refugiaram-se numa igreja. Foram emboscados e massacrados. Restou apenas um olhar.. Quando? 1994. e um milhão é o número aproximado de vítimas ruandesas até o ano 2000.... 

Quer saber mais da bienal e desta instalação? Vai lá e me chama que eu vou! 

no mais... pode dar uma espiada virtual em http://www.29bienal.org.br de onde colhi detalhes da obra acima  e a parte entre aspas do título é da Clarice Lispector.

Marcelo Poloni


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