Restritas adaptações…
Gosto de olhar árvores, seus galhos, sua extensão e sua configuração no espaço vazio, no tempo que as folhas caem ou quando rodeados de verde, ou rosa, ou amarelo, ou qualquer outra cor, como nos ipês, por exemplo, que perdem sua folhagem para ganhar apenas suas flores.
Algum mistério me faz pensar na possibilidade de se expandir, de ampliar ramificações de nossa própria vida para além dos limites da gravidade ou da própria capacidade de pensar. Algo semelhante ao apenas "sentir", seja o vento, o sol ou a chuva.
Nossa vantagem é poder ir e vir e sentir diferentes condições, ambientes. A mobilidade negada às árvores limita seu espaço no mundo. A liberdade, de locomoção, condicionada ao homem pode lhe ser vantajosa, mas traz um desafio tão grande quanto uma sequóia: é preciso adpatar-se muito mais rápido ao ambiente.
Alguns humanos simplesmente estacionam no mundo como as árvores e não apenas em questões geográficas. Seus sentidos condicionam-se ao óbvio, ao limitado espaço que frequentam e não conseguem enxergar um palmo a frente de sua medíocre existência. Se ao menos pudessem embelezar o ambiente com flores, cores e odores, mas nem isso conseguem.
Daqueles que assim são por vontade própria, tenho pena. Confesso que nem todo altruísmo, que por ventura seja eu capaz de desenvolver, conseguiria me fazer acreditar em sua redenção. Que fiquem eternamente plantados no meio de um nada de sua existência.
Mas alguns assim o são involuntariamente, por razões sociais, econômicas, psicológicas ou familiares. Para estes tento ajudar e, vez por outra, consigo dentro das minhas possibilidades, ao menos o florecer de alguma novidade em seus galhos.
Aos poucos, com a beleza de uma flor, de uma estação, da novidade que cativa, conseguem tirar suas raízes do solo e alcançam novos campos, por conta própria, experimentando o erro e o acerto, ou seja, a vida, que antes lhes era negada em sua plenitude humana.
Destes tenho orgulho de sua vontade e dedicação.
Marcelo [Ciello] Poloni