segunda-feira, março 21, 2011

Olhos de Aviador


Ele foi para um centro comercial  a procura de seu novo brinquedinho de falar e ouvir. Vestia seu jeans cinza  lavado, camisa xadrez verde e sua bota. Estava na companhia de um amigo. Passando por muitas lojas, muitas vitrines e muitos olhares. Gente bonita, elegante e nem tão sincera assim....

Ele passou por um casal aos beijos. O macho da relação de frente para o corredor e a fêmea se entregando a sedução daquele calor. Ele olhou a cena e o macho do beijo olhou também e sem findar o beijo o acompanhou com o olhar até que se perderam de vista. Parecia que queria algo mais ali naquela entrega.

Sem muito o que fazer naquela situação, foi caminhando com o amigo, que pasmado com a ousadia, para seu puritanismo público afetivo, precisava ir ao mictório. Ele ficou na espera ao lado de um outro sujeito, barba por fazer, rosto másculo, muito similar ao salvador Malvino.

Ali parado sentiu um excesso de proximidade, um excesso de cheiros e sentidos. Não mais que aos poucos aquele braço e ante-braço de pelos macios estavam mais próximos e roçavam ligeiramente nos seus. Pelos ouriçados, segredos velados, namoradA a caminho, saindo por aquela porta e deixando um vento entre eles. Uma ligeira olhada para trás revelava o que seria se o tempo o deixasse "livre".

E Ele foi além e entrou numa loja de óculos com seu amigo. Não era seu foco principal fazer qualquer compra ali. Já tinha visto que seu rosto se encaixava bem em um aviador e eis que surgiu quem poderia, com conhecimento de causa e de vendas, oferecer-lhe um conselho "amigo". Foi já dizendo: suas maçãs do rosto são altas, seu nariz mais fino, precisa de um modelo com uma volta menor para que ao sorrir ou conversar não levante o óculos do rosto.

Ofereceu-lhe um modelo e comentou: "ficou ótimo, deixou sua face com um ar mais sofisticado. Veja agora este outro aqui!". Óculos no rosto. Modelo muito bacana também. Entre os dois um preço diferenciado. Poderia ter-lhe enganado dizendo que o mais caro tinha ficado melhor. Não o fez. Disse: "este aqui, [ mais barato ], encaixou perfeitamente, deixando sua atitude ainda mais sensual (ênfase no olhar). Já reservei um para mim também, para minha viagem."

Sem jeito com aquele olhar malicioso que o encarava, Ele perguntou: vai para onde? Recife, respondeu... e o papo fluiu por algum tempo mais. Na hora de ir embora, o golpe final: "Fico aqui na parte da tarde, até as 22hs, meu "celular" está no cartão, ligue para conversamos mais..."

E Ele foi embora para, durante a semana, embarcar na onda daquele aviador de tantos óculos...

Marcelo Poloni

4 comentários:

  1. "Se ninguém olha quando você passa você logo acha que a vida voltou ao normal
    Aquela vida sem sentido, volta sem perigo, É a mesma vida sempre igual" (Cazuza)

    Que bom que as vezes podemos retornar ao ponto de origem e mudar nossa trajetória. Nos permitir sempre é o que me interessa...Vida louca vida, vida breve!!! Arrazo Poloni. Bjs

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  2. Noooooooooossa!!!!!
    Muito bom isso!
    Começando MUITO BEM a semana... hehehe!
    Bjz!

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  3. Adorei!
    E adorei a homenagem implícita no conto também
    rs

    Você estava inspiradíssimo mesmo hein?
    Beijos queridão

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Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. Clarice Lispector.

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