terça-feira, janeiro 18, 2011

Contato imediato de quarto grau

Acabei de ler "O dia do Curinga" de Jostein Gaarder e fiquei fascinado pela sua simplicidade alegórica no tratamento de assuntos de cunho filosófico. Ao criar um mundo real, baseado numa história totalmente possível, cercado por um mundo imaginário, que se entrelaça com a realidade anterior, em metáforas e pensamentos congruentes, o autor provoca uma imediata associação com a Alice de Lewis Carroll.

Do mundo imaginário encontramos um enigma cuja resposta revela o mundo real que se constrói com o pensamento, a imaginação e as idéias que se perpetuam com o tempo e não são devorados por sua ira. Nós somos os verdadeiros viajantes nesta aventura.

Segue uma edição que fiz de uma parte do livro, que não revela sua história, mas traz um pouco do que se propõe a discutir em metáforas e analogias:


"REI DE ESPADAS ... Um contato imediato do quarto grau...


Vamos imaginar que um belo dia você vá até o jardim e descubra [... um pequeno marciano. [...] - Digamos que a estranha figurinha erga os olhos e firme o olhar em você. [...] A questão é saber como você reagiria [...] Você não acha que ficaria um tanto espantado e curioso para saber quem era aquele extraterrestre e de onde ele vinha?


- Já te ocorreu alguma vez que você mesmo pode ser esse homenzinho de Marte? Ou um homenzinho da Terra, se você preferir. No fundo não importa o nome do planeta em que vivemos. O fato é que você também é uma criatura de duas pernas que vive andando daqui para lá num globo que vagueia pelo universo.

- E pode ser até que você esteja passeando pelo jardim e, em vez de dar de cara com um marciano, dê de cara com você mesmo. E pode ser que nesse momento você dê aquele grito de medo que daria se encontrasse um marciano. Isso para dizer o mínimo, pois afinal de contas não é todo dia que a gente se descobre um habitante vivo de um planeta que não passa de uma ilhota no universo.

 [...] ver uma nave espacial de um outro planeta significa um contato do primeiro grau. Quando vemos criaturas bípedes saindo de dentro dessa nave falamos de um contato do segundo grau. "Contatos imediatos do terceiro grau" [...] se chamava assim porque as personagens do filme tinham tocado em andróides de um outro sistema solar. Esse contato direto é o que chamamos de contato do terceiro grau.

- Mas você [...] você experimentou um contato imediato do quarto grau. Isso porque você mesmo é uma misteriosa criatura do espaço [...] Você é essa criatura misteriosa e a conhece como ninguém."

Então, você tem certeza que conhece a si mesmo a ponto de dizer que já teve um contato de quarto grau?

Alguns (eu incluso) tem a vontade de saber como são vistos pelo olhar do outro e, o que representamos, de fato, não é necessariamente aquilo que realmente achamos. O efeito da  existência coletiva não é o mesmo, muitas vezes, em todas as pessoas como achamos que deveria ser.

A relação de existência e de consciência de nossos atos e palavras vai além da interpretação própria. Tudo dependerá exclusivamente dos sentimentos, das idéias e situações interpretativas do receptor. O emissor que der margem a dúvida cria o pior caminho a ser traçado em sua mensagem, pois tende a levá-lo para uma rede complexa de esclarecimentos que podem gerar desgastes desnecessários a sua própria imagem.

Marcelo Poloni....
                            .... que também gostaria de ser John Malkovich e muitos outros mais... 

Um comentário:

  1. Fiquei curioso com o livro, vou colocar na minha lista de leituras de 2011..
    bjs

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Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. Clarice Lispector.

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