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O encanto que alguns lugares promovem e estimulam nosso desejo de conhecê-los pessoalmente pode ser adquirido de diversas maneiras: jornais, revistas, filmes e livros, entre outros. Entretanto, como considerar uma viagem para uma cidade onde existe um desgoto muito grande pelo poder e corrupção que emana dos representantes que nós mesmos escolhemos por voto popular? Sim, fui a Brasília. Aceitei o convite, já feito inúmeras vezes, do meu amigo Chris.
Depois de muita relutância segui adiante pelo caminho daqueles muitos que lá chegaram quando da sua construção e fundação por JK. Sua história, e suas lendas, já foram até retratadas em exposições e desfiles de escolas de samba mas, o grande valor que busquei nesta visita, desprovido do asco típico ligado à política, foi o encontro com a forma e a arquitetura de uma cidade projetada para ser a capital nacional.
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Descobri que o reflexo dos raios solares sobre a cidade e, principalmente, sobre as grandes obras arquitetônicas de Niemayer, no plano urbanístico de Lúcio Costa, provome um paradoxo muito grande de sensações.
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Existe uma beleza geométrica de ângulos, dos mais variados, entre sinuosidades orgânicas realizadas com concreto pintado de branco. O sol contribui muito para deixar os olhos vibrantes nesta mistura entre as "grandes pedras brancas" e o céu, de um azul cintilante, ora bordado de nuvens claras.
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Ao mesmo tempo, a aridez de um chão desprovido de verde traz hoje, muito além daqueles sentimentos futuristas-funcionais das décadas de 1950 a 1970, um desconforto sensível ao corpo. (esta sensação está gritante no entorno da Biblioteca e do Museu Nacional). Sinto o mesmo ao caminhar pelo Memorial da América Latina em São Paulo. Talvez o clima prejudique ainda mais nesta questão.
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O vazio, caracterizado pelo chão de concreto no entorno das edificações, pode ser justificado pela necessidade de espaço para a sua completa admiração, entendimento artístico e arquitetonico global.
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A projeção da obra e sua magnitude no ambiente seria tolida por um conjunto natural e orgânico, não restrito a gramados, em sua concepção urbana? Acredito que não, vide o parque do Ibirapuera em São Paulo. Independente de problemas desta natureza, existe sim, um valor artístico imenso agregado a este conjunto único de formas espalhado pela capital do país.
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Muito além da dança mágica entre as formas erguidas do chão e o céu, de azul intenso ou bordado de nuvens em formas diversas - existe um segundo ato no bailar da impressões visuais: o mosaico de cores, um caleidoscópio de luz, através dos vitrais e no interior de alguns lugares como a Catedral de Brasília e a Igreja de Dom Bosco.
A simplicidade do conjunto é recortada pela intensidade dos raios luminosos projetados em cores e brilhos espalhados pelo ambiente e projetados para a eternidade como símbolo do encontro do homem com uma força maior, o que a maioria chama de Deus, mas eu prefiro chamar de: "um pensamento bom" que me acompanha enquanto índole, caráter e simplicidade de sentimentos pelo próximo.
Há também que se considerar o que não seria obvio de acontecer e ver: encontrei minha tribo e não foi no Memorial dos Povos Indígenas mas num festival se sorrisos que viaja no campo da alegria com um furgão que parece saído de um filme sobre a era de aquário. E lá estava eu no festival de palhaços e palhaçadas do Sesc.
Vale contar também que eu costumo perseguir exposições de arte. Perdi a exposição sobre o Islã no Rio, deixei de vê-la em São Paulo mas encontrei o caminho do oriente no CCBB de Brasília.
Também tive a grata surpresa de encontrar a exposição sobre o centenário de Margareth Mee, enredo da escola de samba Beija-Flor, em 1994, com suas aquarelas sobre a flora brasileira cuja suavidade nas pinceladas é quase divina.
E para finalizar um jantar filosófico entre vinho e sincretismo religioso para a descoberta de novas possibilidades para quem assim as deseja com a intensidade de um momento único, tal qual um por-do-sol que não repetirá seu jeito de ser no dia seguinte.
Ainda voltarei por este caminho das pedras brancas...
Marcelo Poloni
* Itamaraty, em tupi, siginifica Pedra Branca.
* Existem outras tantas fotos mas fica inviável de colocá-las aqui. e por isso mesmo convido-os a visitar meu
[ÁLBUM] no picasa.