quarta-feira, junho 29, 2011

Palavras ausentes

A realidade devora todo o cotidiano como um instinto de sobrevivência selvagem diante da fome de vida.
Fui pescar sonhos onde o infinito dos meus olhos não mais conseguem enxergar pensamentos.
Restaram palavras, imagens e sensações de um futuro imaginário, sempre presente.

Tento traduzir o meu vazio em cada espaço e inundá-lo de esperança. 

Vou seguindo de saudade em saudade na busca de um grão da areia do tempo.

Guardá-lo-ei como memória infinita de carinhos teus.

Tu és um muito de mim e sou um muito de ti.

Eu voltarei por aqui, em breve. 

Marcelo [Ciello] Poloni

quarta-feira, junho 22, 2011

Vento Leste, entre o deserto e o oásis imaginário

Ele não era apenas um leitor que consumia livros para fazer um resumo sistemático e pré-programado de conteúdo. Tampouco o fazia para dizer ao "mundo" que era culto com sua capacidade de fruição. Buscava a essência, a razão e seus desdobramentos, épicos ou não, de leitura.

Clarice Lispector trouxera-lhe intensa divagação sobre a vida, para perceber as relações e sentimentos na observação do mundo e das pessoas a sua volta, unindo-o significativamente a outras pessoas e a uma delas em especial, o "Vento Leste". Foi através dele que se aprofundava em descobrir um coração. Verde fruto proibido da árvore da vida que sua mão não conseguiu colher naquele tempo.

Um grande mistério ainda pairava entre eles. Nas muitas conversas e encontros, regados a intensas trocas, sempre foi sensível que a amizade, beijos e carinhos pareciam não ser recentes. Sempre foi perceptível uma misteriosa sensação de que se conheciam há séculos. Conheceriam ainda, e intimamente, sentimentos, entre alegrias, expectativas e frustrações.

Por um tempo que ele achou que aquele vento, de natureza divina, que habitava seu pensamento, quisesse ir além. E quis. E foi! Mas recuou sem explicação palpável. Ele, mesmo doído pela negação da tentativa de se construir um caminho, que não saberia onde o levaria e tampouco o importava, não quis perder a companhia do vento e recuou em suas expectativas, que até então, antes da lufada crucial daquelas palavras soltas, era apenas brisa sonhadora de tardes de domingo.

Já era tarde àquela altura. Ele foi levado pelo Vento Leste que arrebentou todas as janelas e proteções. Não conseguia mais sentí-lo como a brisa de uma amizade, mas mesmo assim tentou segurar-se em terra, lançado a espera de um posicionamento e, em meio a rajadas fortes, que trouxerem intensas chuvas a seus olhos, foi de peito aberto ao outros encontros. 

Soubera, de antemão, que a turbulência daquele vendaval não seria fácil de lidar mas, como poucos, sobreviveu em seu convívio, em seu carinho e em suas recordações. Sempre que ventava no seu caminho à leste, perdidos carinhos e afeições típicos de um bem querer maior. Sua própria inconstância e falta de rumo? De fato já havia um outro caminho por onde o Vento queria seguir. Ele já sabia disso, mas seu coração, sempre carinhoso e apaixonado, não. 

Chegaram aquele domingo derradeiro de suas frustrações cotidianas e afetivas. Insensível e sem a menor humanidade, e tal qual fúria da natureza, o Vento Leste não soube responder ao telefone, naquele começo de noite, com um "não posso hoje, estou acompanhado", para preservar um mínimo de dignidade. Levou-os, em minutos, da mais alta felicidade de uma tarde bem vivida, ao mais baixo nível da humilhação.

Ele saiu às pressas daquela tarde carinhosa de sol de outono para que o Vento pudesse se entregar ao prazer da efêmera conquista de seis andares acima naquele edifício, mas que não poderia conceder-lhe nada além do proibido de um jardim de ilusões pois, por infortúnio de sua condição de vida, com as "promessas sagradas de amor eterno", era casado a outro ser humano feminino e tinha com sua prole. O vento tinha sua meia-vida, um meio termo afetivo. Para o outro esta condição nunca lhe bastaria, enquanto uno que era.

Expulso, naquele momento crucial de ter que ir embora às pressas, Ele usou de toda a força interior que lhe restava para traduzi-la numa verborreia de verdades que, mesmo não sendo ouvidas ou compreendidas, esperava ter peso absoluto sobre sua consciência, iluminando-o no caminho que quisesse traçar para seu futuro. 

Neste tempo de sonhos, licores e pudins, em meio a afeto, carinho e proximidade, poucas foram as respostas às mais diversas perguntas traçadas. Tal qual esfinge, que finge não se importar, o Vento Leste continuou a fazer seu remoinho de areia no deserto de sua existência que um dia quisera Ele transformar em oásis imaginário.

Ele foi embora deixando um verde coração partido no infinito e talvez venha apenas a sussurrar, na brisa solitária do oceano que, mesmo assim, compreendera o porque das fortes rajadas daquele vento, que o entedia também, por causa de suas íntimas e únicas passionalidades, em personalidades que talvez somente Clarice, possa traduzir em verbos e predicados, sujeitos que eram a ação contínua do tempo. 

Marcelo [Ciello] Poloni

Saudade,
O carinho é como o vento
que não pode ser visto
mas sempre ao senti-lo
saberá que está lá
No leste




segunda-feira, junho 20, 2011

Eterna Primavera 74

Há 37 anos, enquanto Elvis cantava em Iowa, eu nascia naquele mesmo dia 20 de junho e, confesso, não foi fácil chegar ao mundo depois de ter sido concebido na primavera de 1973 e ser abandonado pela figura paterna desde então. Enquanto estava eu entre choros, mimos e cabelos louros, a crescer na minha cabeça de neném, lá em nas Minas Gerais, dois homens, já encaminhados em suas trajetórias de vida, encontravam-se pela primeira vez em orações aos seus respectivos pais que passavam por problemas de saúde. Da seqüência de encontros semanais no centro espírita, surgia uma amizade intensa e forte. No pulo do gato de confidências trocadas, um mineiro namoro nasceu, e engatinhava, assim como eu, na alegria daquelas tantas novidades a descobrir.

O tempo foi passando e aqueles anos 70 foram “modernos” e paradoxais comparados com a atualidade. Era da ditadura militar e da liberdade criativa do Dzi Croquettes. Hoje, se compararmos estes “tempos modernos” de outrora, é notável minha percepção que somos uma fração limitada e engessada de nossos próprios preconceitos. Eu, ainda engatinhando e tentando andar nas duas pernas, nem imaginava que uma garotinha humilhava a ditadura em Belo Horizonte e que dois homens lá se apaixonaram.

Paulo e Wanderley construíam uma união que, como eu, na descoberta do mundo, levava tombos, levantava, caia de novo, e tentava novamente até que um dia tomou prumo e não caiu mais. Assim como em qualquer casamento nem tudo foram flores, mas, os desentendimentos, incluindo o ciúme, acabavam cedendo pela transparência, cumplicidade, paciência e dedicação à entrega mútua de se ter alguém próximo em constante carinho.

As memórias daquele inicio dos anos 80 eu guardei. São presentes na minha vida como eram aquele ferrorama, aquela bicicleta monark, o LP do balão mágico e o sítio do pica-pau amarelo. Sempre fui uma criança muito fechada e quando chegava um padrinho ou madrinha me escondia ou fingia dormir.

Naquele tempo, Paulo que era tímido, fechado e não assumido, fez do Wanderley, deslocado e experiente, sua referência comportamental, transformando-se, aceitando-se e assumindo um compromisso sério de relacionamento. Opostos completos que fizeram e ainda fazem das diferenças um exercício de respeito e compreensão para viver a vida juntos por este tempo conjunto.

Fui crescendo meio sem saber o que era a vida e sem ter a esperteza daqueles garotos que viviam a jogar bola enquanto eu estudava sozinho para tirar boas notas. Apaixonei-me por uma garota, tudo platônico, medroso que eu era, nem sabia o que era desejo. Foi meu primeiro amor, mas meu primeiro desejo foi por aquele garoto dos olhos de vênus que me acompanhava na volta da escola.

Nesta época, bem pra lá do triangulo mineiro, Paulo já tinha descoberto em Wanderley, seu primeiro e único namorado, um sentimento maior do que qualquer outra possibilidade, de efêmero desejo, que o mundo pudesse oferecer, e que foi, pouco a pouco, conquistado com o respeito às individualidades em confiança mútua, tanto que, juntos nunca moraram.

Já mais crescido, encontrei um amigo que pelo tempo dele cá na terra eu passei. Um protetor que entrou na minha família como pessoa querida e odiada, pois despertava receio e ciúme, tanto em casa, quanto aos amigos. Nossa amizade foi consolidada desde os oito anos e adentrou ao núcleo familiar tanto quanto o relacionamento entre Paulo e Wanderley irradiou-se para todos a sua volta, das famílias aos colegas de trabalho, criando tanta empatia e integração (inclusão) que fornecera consolidadas estruturas para seu “casamento” não ser efêmero como muito acontece nestes dias e em todos os tipos de relações.

Na roda do tempo me perdi nos livros e nos estudos. Dois vestibulares e passei em ambos, em carreiras distintas. Entre humanas decisões, exata era a noção das minhas possibilidades e, com certo comodismo conformista, acabei escolhendo o curso que trouxe “facilidades informáticas”, não exatamente uma profissão. Talvez um erro a consertar por este tempo que sigo e não desisto!

Tenho um bom exemplo do Paulo que, neto de sicilianos, resolveu, aos 30 anos, fazer História – “As possibilidades de uma releitura da vida e seus valores, isto me fascinou – e fui fazer filosofia para complementar”. Formado em veterinária, sua profissão de fato, hoje dedica seu tempo a trabalhos voluntários em uma ONG ministrando palestras para jovens, com uma abordagem sobre ética e comportamento humano. Apaixonado por Roberto Carlos e Beatle-maníaco, fez de seus ídolos, amores conjuntos com Wanderley, que adotou a História com a profissão de professor e fez do seu blog um canto para poesias, pensamentos e contos que cativam desde a primeira leitura.

Não satisfeito com os rumos não dados a minha formação fui buscar renda para outros vôos. Comecei a trabalhar naquele banco que era sinônimo de boa vida para quem nele adentrava no passado, agora não mais. Não fiquei parado. Investi na minha liberdade e fui morar sozinho em São Paulo. Começava ai a grande revolução. Voltei meu tempo para fazer e acontecer tudo aquilo que tinha deixado para trás e ainda o faço.

Da mesma forma que reconstruo meu caminho, Paulo e Wanderley, já bem à frente nesta rota, souberam percorrê-lo com maestria nas palavras de seu casamento: “Tem-se que ter vontade, perseverança, compromisso, cumplicidade e disposição para a construção minuto a minuto, dia a dia, ano a ano. Saber superar obstáculos, acreditar na possibilidade. Não acho que isto seja tão incomum assim. Temos vários amigos na mesma condição. Não é um processo simples e fácil, mas totalmente possível, e isto vale tanto para o relacionamento homossexual como heterossexual.”*

De uns tempos para cá passei a escrever aqui. Apaixonado por Clarice Lispector, resolvi colocar para fora os sentimentos, emoções e as coisas da vida, de forma lírica, com um toque de sensibilidade e outros temperos poéticos. Bem antes, e já “ligado” com a tecnologia, movimento futuro da vida, Paulo escrevia em blogs para contar a experiência de ter uma vida de casamento gay assumido e declarado que é real. Como não existe receita de vida igual para todos, cada individuo saberá seu caminho e sua vontade. “Quero mostrar que quando se quer e quando se acredita, tudo na vida tem a sua possibilidade”.*

Paulo tem seus 60 e Wanderley seus 61 anos de experiência. Hoje, quando eu completo 37 anos de vida, e eles no caminho dos seus 37 anos de relacionamento, costurei-me em histórias, soltas no tempo, na trajetória do relacionamento deste casal que merece o meu maior respeito por conquistar a plenitude da essência de amar e saber viver intensamente um para o outro.

“Não somos apologistas do AMOR folhetim mas sim do AMOR consciente, construído e vivido no respeito, na cumplicidade, na transparência e nas lidas do dia a dia. Paixão é uma coisa linda mas ela dá e passa. Se ao fim de cada paixão formos buscar outro AMOR não estaremos sabendo o que é o verdadeiro AMOR. Ele na verdade é algo que se constrói minuto a minuto.”*

A gratidão por ter conhecido sua história, e as outras tantas por aqui agora compartilhadas, é imensurável, colaborando, ainda mais, para possa sempre acreditar em sentimentos verdadeiros, ora um pouco acinzentados pela dinâmica das facilidades atuais, mas que volta a se avivar com intensidade para quem acredita e constrói um caminho verdadeiro.

37 aqui, 37 lá. 74 no total. O Ano que começamos eternas primaveras.

Marcelo [Ciello] Poloni

*Citações de Paulo Braccini


e tem mais…

Ps.: Logo abaixo, o áudio de uma entrevista com Paulo Braccini, diretamente do blog [YAG – Na contra-mão]. Agradeço ao Hugo pelo áudio e ao Serginho, com a entrevista do Paulo no Blog [Justo e Digno], que autorizaram a divulgação e uso de seu material aqui disperso em minhas crônicas.



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  Brownstone & Barry White - If you Love Theme by Bangers and Mash

domingo, junho 19, 2011

DOMINATION


Quando você percebe já está entregue, totalmente dominado. Fazem de tudo. Alguns são peludos, outros nem tanto. São deliciosos e não resisto a eles. São muitos! Saudade do tempo que os assistia, lá nos anos 80, nos sábados à tarde, após o jornal hoje. Que venham logo dominar a cidade, o país, o mundo! Muppet Domination! MAS.... onde está Wally?


Marcelo [Ciello] Poloni

sábado, junho 18, 2011

Perfume de Jasmim

“Dependerá de nós chegarmos dificultosamente a ser o que realmente somos. Nós, como todas as pessoas, somos deuses em potencial. Não falo de deuses no sentido divino. Em primeiro lugar devemos seguir a Natureza, não esquecendo os momentos baixos, pois que a Natureza é cíclica, é ritmo, é como um coração pulsando. Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama “eu existo”, a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.”(Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres)

Como era de se esperar, fiz uma coleção de citações do livro. Não aguento ficar longe delas! Acho que é um vício que tomo consciência no amplo sentido de sua existência. São momentos pessoais de interpretação literária que pode ser diferente ou, muitas vezes, igual a de outra pessoa, mas são únicos enquanto leitura interna de minha alma. Importante é que fiquei muito satisfeito com esta imersão em um livro cujo sentido amplo da descoberta vai da angústia de não saber "ser" ao êxtase máximo de se encontrar por completo e poder assim doar-se em plena sintonia com outrém.

Partindo agora para a imensa descoberta de novos mundos e de novas experiências sem deixar de levar na bagagem um pouco daquilo que aprendemos e que, demasiadamente esquecemos, é o motivo que me faz guardar as memórias da leitura em arquivos, blogs, murais e saudades. Compartilhar é preciso, pois faz de sua existência um significado maior que a individualidade do pensamento. Aceitar novas interpretações também é expandir o universo de possibilidades e sensações, e diariamente transformando seu modo pessoal e único de entender ou compreender a vida que segue.

E eis que a pergunta mais complexa de ser respondida e que não tem, definitiva a certamente, uma resposta certa, pois depende de cada um em sua individualidade, se abre para mais uma possibilidade metafórica de interpretação, segundo Clarice Lispector:

“Quem sou eu? Perguntou-se em grande perigo. 
E o cheiro do jasmineiro respondeu: 
- Eu sou o meu perfume”.

Marcelo [Ciello] Poloni

sexta-feira, junho 17, 2011

Liberdades individuais

Todas as pessoas podem achar aquilo que quiserem umas das outras, é quase que instintivo e vem dos primórdios da humanidade. Sacanagem é utilizar-se disso para criar intrigas ou maledicências cuja única finalidade é expor fraquezas e defeitos que, na verdade, também estão presentes em quem as produz, pois é da natureza humana ser imperfeita.

De fato vivemos em sociedade e isso significa que o convívio pacífico requer uma certa dose de desapego aos pré-conceitos que fazemos uns dos outros, pois ninguém está imune a eles. Buscamos cada um o melhor para si e as vezes esbarramos no próximo e neste momento temos que ter consciência do princípio das liberdades individuais.

Dentro de regras mínimas de bom convívio, minha liberdade, por mais forte e abrangente que a palavra indique ser, deve ser limitada a mesma liberdade que meu semelhante possui, ou seja, não posso ou devo ir além daquilo que possa interferir na liberdade do meu semelhante de forma a promover uma agressão gratuita.

Marcelo [Ciello] Poloni

quinta-feira, junho 16, 2011

Wild Things

Somethin' filled up
my heart with nothin',
someone told me not to cry.
But now that I'm older,
my heart's colder,
and I can see that it's a lie,

...our bodies get bigger but our hearts get torn up.*


Logo voltarei com uma história que tem a minha idade...

Marcelo [Ciello] Poloni

*alguns versos da música Wake up, Arcade Fire

terça-feira, junho 14, 2011

Cartas Lusas Melodias

"Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue. Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo. Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado. Como o sangue: sem voz nem nascente." (Mia Couto)
Você se arriscaria tudo por um romance baseado nas ondas da internet? Você largaria sua vida feita em um país da Europa para começar tudo de novo no Brasil? Esta pergunta é preconceituosa na suposição implícita de inferioridade em relação ao que achamos de nosso país?  Sim, mas quem enxerga o mundo com olhos estrangeiros talvez não veja da mesma forma, especialmente quando o motivo de sua ousadia seja a cativante alegria de viver expressa pelo frescor das palavras rápidas, justas e dignas, radicadas em Recife.

Encontraram-se nesta praia virtual de tantos “blogs” 508 anos após Cabral "ter encontrado" seu porto seguro em terras tropicais. Fizeram da troca de suas palavras, confidências de amor. Pouco tempo depois, aquele mesmo mar, que separava Camões daquela colônia ao sul, foi vencido pela lusa vontade de namorar o novo continente em verbos sentimentos. Manuel largou tudo e veio para o Brasil com uma bagagem de sonhos conjuntos com Sérgio e, desde então, nunca mais dormiram separados. Encontro bem sintonizado.

Hoje fazem do convívio diário uma experiência de troca e aprendizado. Sérgio foi atraído pelo ar mistério e pelo olhar instigante, que pedia carinho, estampados naquelas fotos trocadas. Sua grande afinidade, motivo de seu encontro: Escrever. Seja na internet, no blog, nos cadernos e agendas, em toda "carta" de Manuel, uma música especial para Sérgio lembrar-se de palavras em melodias. Sons do coração.

A maior cumplicidade que desfrutam foi a de sempre poder falar sobre tudo, sem medo ou restrições, mesmo que isso implique em discussões, sempre, passageiras. “A dificuldade de viver junto é normal, faz parte. A gente se esbarra, toma o espaço do outro, mas é fazer com que isto seja prazeroso no final das contas” que move a vontade de estarem sempre juntos.

Enquanto Sérgio é extrovertido e sempre atento aos movimentos da vida, Manuel é centrado, sério e mantém seu ar de mistério. É um caso onde os opostos se atraíram e estão num bom caminho para longos e ternos anos de amor, respeito e dedicação. Coragem, de se entregar ao risco que é viver junto e intensamente seus sentimentos, é o que não falta ao casal. Definitivamente!

Marcelo [Ciello] Poloni

ps.:  O casal me deve agora sua receita de “Ovos de Tomatada” que ficarei devendo por estas crônicas gulosas, digo, líricas.

  Oxala!-Madredeus by troubledmind


segunda-feira, junho 13, 2011

Refúgio das Palavras Francesas

E ele foi...

Já tinha estudado a vida e cursado sua trajetória. Aventurou-se pelo caminho efervescente de novidades da capital paulista para ser mestre em saber. Pública universidade, professora de vaidades, trapaceou suas expectativas. Dissertação perdida no desenlace de suas letras bem escritas.

Sentou à margem da estrada para pensar. No social caminho das esmeraldas pelos rincões de Goiás ganhou um pouco de vida. Sem maiores expectativas aceitou aquele convite de ir além. Com sua modesta poupança de alguns tostões seguiu o caminho de tantos outros na sorte de ganhar muito mais que a vida.

O rapaz das palavras francesas abandonou sua fluência para aventurar-se por outra linguagem falada na América terra dos das oportunidades. Foi mais uma vez ludibriado em histórias mal contadas. Lançado ao choro de outra vida tinha pouco tempo para ganhar a sua. Mãos atadas, limpeza forçada, necessidade de quinhão. Procurou em afetos classificados quem lhe afagasse tanta desilusão.

O encontro marcado com aquele olhar nostálgico dos anos 70 revolucionou seu coração até então sofrido. Um resgate de sua alegria e daqueles sentimentos de companheirismo. Nunca mais se afastaram. Libertou-se daquele convívio nefasto de abusos infantis. Denunciou aquele casal “amigo” e foi-se embora para um novo encanto. Certeira morada de tanto afeto, carinho e atenção.

Tentou mudar sua condição de visto vencido estrangeiro coração. Se cá viesse, para sua pátria nação, pela lei severa, imposta condição de não poder voltar para os braços de sua americana e não reconhecida comunhão. Qualquer tentativa seria a declaração de exílio por tanto tempo que definharia em saudade.

Há nove anos Dino refugia-se em clandestina vida bem moldada no convívio de seu relacionamento com Paul. Vivem bem e, apaixonados, cada vez mais não conseguem se imaginar separados. Dino colocou-se agora a escrever neste nosso convívio de tantas letras portuguesas. O garoto das palavras francesas encontrou enfim a liberdade tão sonhada naquelas palavras inglesas de seu amor incondicional.

...e nunca mais voltou.

Marcelo [Ciello] Poloni

  Calling you ( Bagdad Cafe Soundtrack ) Cover /Javier De La Cruz

domingo, junho 12, 2011

Fragrância de Estrelas


Há um tempo muito distante, em nossa imaginação, na terra dos gigantes “pamps”, vivia um Príncipe, com seus vinte e poucos anos, cabeças nas nuvens e isolado em seu mundo virtual. Nesta terra havia um Rei desiludido por seu passado, que buscava seu amor verdadeiro, definitivo e leal, através das cartas que seu, já cansado, pombo-correio tentava entregar àquele príncipe distraído.

Em um golpe do destino, em um de seus passeios pelos campos de verdejantes “ubliks”, aquele príncipe defrontou-se o pombo-correio-real de asas abertas no chão, quase sem fôlego algum, e que carregava o último e derradeiro convite de visita ao castelo real. Estupefacto com a mensagem, em galopes rompantes de curiosidade, montado em seu corcel prateado, o príncipe foi ter com seu rei um primeiro encontro.

Um perfume de notas envolventes, preparado pela bruxa boa conselheira dos lados de lá, transbordava da pele do rei para todo o salão, provocando visões mágicas sobre o príncipe, que absorto nos lábios reais, viu um caminho de estrelas, pressentindo que, ali, naquele momento, começava uma nova primavera para sua vida.

O rei, muito esperto e com anos a mais de vida e experiência, tratou de envolver o príncipe por todos os sentidos, sem deixar dúvidas de sua real intenção de cultivar conjuntamente uma nova era de alegria. Não houve escapatória. O príncipe, mesmo fugindo para longe, atravessando mar das “ongs”, pequenas sereias, não se deixou ludibriar. Estava com o caminho de volta traçado em sua memória.

Neste tempo de separação, o jovem ganhou maturidade. Aprendeu a lidar com suas próprias fraquezas e dificuldades. Evidenciou-se que sua união com o rei era definitiva, marcada pela saudade, que revela, na sua essência, sentimentos mais profundos que se agigantam para mostrar à luz de sua intensidade, um verdadeiro amor.

Bravura não faltava ao príncipe que, já entregue e consumado no casamento real, enfrentou grandes desafios diante de um dragão maquiavélico que se espreitava nas sombras de seu bravo Rei, esperando o momento propício para congelar-lhe a alma.

Neste quase onze anos de relacionamento o tal dragão tentou, uma vez mais, render-lhes o corpo e lançá-los no precipício, mas, tanto o rei quanto seu príncipe, com a vontade de amar e de viver intensamente, reuniram forças e, junto, conseguiram agarrar-se a teia da esperança para alçaram a torre do castelo.

A mística da cabala não mente, duas almas gêmeas que se encontram resistem ao tempo. Suas almas tentem a se fundir novamente, complementando-se, somando, ensinando e aprendendo a desvendar os mistérios da convivência em amor e ternura.

Revigorados e cada vez mais unidos o Rei Maurício e o Príncipe Eduardo, construíram, enfim, uma fortaleza para morarem juntos e, para bem perto dali, trouxeram seus aliados de forma a protegê-los com tanto carinho quanto aquele que emana entre si, e para todos nós, de seus nobres corações apaixonados...

Marcelo [Ciello] Poloni

ps.: esta fantasia não se fez de ilusão, é um encanto de um sonho real, realizado. Algo assim.... Supimpa!

The circle of life (live) by JazzCommunity
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